É boa a ideia da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de lançar um novo modelo para tratar os idosos na rede privada.

O Brasil conta hoje com 20 milhões de pessoas com mais de 60 anos, dos quais quase 90% padecem de ao menos uma doença crônica, como hipertensão arterial, diabetes, câncer, osteoporose etc. A magnitude do problema só crescerá nos próximos anos: as projeções apontam para uma população de 65 milhões de idosos em 2050.

Eis aí um desafio para o qual o país precisa se preparar. À medida que a idade avança, surgem problemas crônicos que não se limitam a uma especialidade médica.

No atual modelo, ao paciente nem sempre se oferece um médico primário, que seria o responsável pelo gerenciamento de sua saúde. O usuário dos planos acaba entrando no sistema por meio de um serviço de emergência (onde a cada turno há um plantonista diferente), quando não decide por conta própria ir a especialistas.

Quanto mais médicos o idoso visita, maior tende a ser o número de exames e procedimentos a que ele se submete, assim como tende a ser maior a quantidade de drogas prescritas. Tal prática não só tem impacto sobre os custos mas também aumenta o risco de iatrogenia.

Se um médico com experiência em idosos centralizar os cuidados, decerto haverá redução de desperdícios com consultas, exames e procedimentos desnecessários. Também se evitará o risco de perigosas interações entre medicamentos.

O projeto da ANS tem o condão de imprimir mais racionalidade ao sistema. Uma das propostas é induzir os planos a criar centros geriátricos em que atuariam médicos e outros profissionais da área, que reconheçam riscos capazes de agravar a saúde do idoso e atuem também de forma preventiva.

Outra ideia é desenvolver um registro eletrônico com o histórico do paciente, que poderá ser acessado por qualquer médico e pelo próprio usuário. Assim, mesmo numa emergência, todas as informações necessárias poderão ser localizadas com facilidade.

O melhor de tudo, porém, é que, antes de baixar toneladas de resoluções mudando toda a regulação do setor, a ANS resolveu testar essas iniciativas em projetos-piloto, para saber se funcionam e como podem ser melhoradas. A partir do segundo semestre, 15 organizações deverão proceder ao ensaio.

O Brasil precisa cada vez mais de políticas públicas baseadas em boa ciência, de preferência submetidas ao teste da empiria -e não baseadas em impressões e inclinações, submetidas ao voluntarismo.