A crise econômica faz um grande estrago em um segmento que já enfrentava um situação complicada: a saúde suplementar. O aumento do desemprego e a queda na renda da população tornam a situação das operadoras mais difícil, assim como trazem um grande estresse para os mais de 1,3 milhão de beneficiários que perderam o plano de saúde entre março de 2015 e março de 2016. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) revelam que esse foi o número de pessoas que deixaram de ser clientes das operadoras de saúde, uma queda de 2,6%, em relação ao ano anterior. Dados da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) apontam que esse número subirá para cerca de 3 milhões de pessoas até o final deste ano em função das demissões.

Antonio Carlos Abbatepaolo, diretor executivo da Abramge, destaca que a crise do setor de saúde suplementar acontece há tempos, considerando-se a insatisfação de todos os envolvidos: clientes reclamam da demora no atendimento e do preço; empresas insistem que a regulação precisa ser revista para que o setor possa crescer; prestadores queixam-se de baixos valores por consultas e exames ofertados pelas operadoras; acionistas questionam investimentos pela baixa rentabilidade e governo tenta achar uma saída para este imbróglio para desafogar o SUS, que tem recebido grande parte dos desempregados.

“As empresas precisam ganhar escala. Para isso acontecer, é preciso um amplo processo de mudanças no arcabouço regulatório e também de conscientização da sociedade sobre o uso dos serviços médicos para evitar tanto desperdício. Está mais do que na hora dessa discussão, envolvendo todos, acontecer. Só assim será possível ter produtos com preços mais acessíveis a todas as camadas da sociedade”, alerta a presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Solange Beatriz Palheiro Mendes.

Todos esses problemas já existiam antes da crise, mas eram contornados com o crescimento das vendas. Há pelo menos uma década o faturamento só cresce, mas agora foi interrompido pelo avanço do desemprego. Além de perder receita com a queda dos clientes, as operadoras registram alta nas despesas pelo uso excessivo dos serviços pelos funcionários demitidos e também daqueles que têm medo de perder o plano de saúde de uma hora para outra. O gasto total do setor de saúde suplementar – inclui despesas assistenciais, administrativas, de comercialização e impostos – somou R$ 147,5 bilhões, crescendo 12,6% em 2015 ante o ano anterior. Assim, o resultado operacional foi positivo em R$ 800 milhões, concentrado em poucas operadoras com lucro e a grande maioria no prejuízo.

Outro problema que o setor tenta resolver é a judicialização, ou seja, o excesso de processos na Justiça, que na maioria dos casos determina o atendimento, mesmo que o procedimento esteja excluído do contrato. “O custo disso é repassado ao consumidor”, acrescenta Mauricio Lopes, vice-presidente de saúde da SulAmérica, que tem investido em tecnologia e programas de qualidade de vida controlar custos. Ele também cita que custos extras como a alta do dólar, novos procedimentos, casos de H1N1, aedes aegypti, entre outros fatores, influenciaram negativamente a composição dos custos de saúde.

Uma das discussões para elevar a consciência de todos quanto ao uso mais apropriado do plano é a coparticipação, com o funcionário pagando uma parte do valor de procedimentos mais simples, como consultas e exames. “Todos os envolvidos precisam controlar custos”, ressalta Marcio Coriolano, presidente da Bradesco Saúde e da Medservice, que contabilizou mais de 130 milhões de atendimentos e procedimentos, entre partos, cirurgias e outros no ano passado. “O gestor de saúde se dedica para aumentar a escala, diluir os custos e gerir despesas para controlar a sinistralidade, equação que eleva a ter um preço que caiba no bolso do consumidor”, diz o presidente da Bradesco Saúde, que tem mais de 4,4 milhões de clientes.

O plano de saúde, que era negociado pelo departamento de recursos humanos, está na mira do presidente devido ao corte de custos das empresas. “A grande preocupação tem sido manter o benefício ao trabalhador, mas o custo tem de ser controlado”, revela Irlau Machado Filho, presidente do grupo NotreDame Intermédica, terceira maior empresa do setor de saúde suplementar do país, com avanço de quase 20%, no número de clientes, encerrando 2015 com 3,6 milhões de vidas. “As empresas acabam revendo os benefícios e avaliam sua performance por diferentes perspectivas”, diz Erwin Kleuser, diretor da Amil, que conquistou 19 mil novos contratos, a maioria no segmento de PME.

Para Rodrigo Bacellar, presidente da OdontoPrev, líder em planos odontológicos corporativos no Brasil, “a estratégia de longo prazo é expandir a penetração dos planos dentais por meio de canais exclusivos de distribuição, em especial bancos de varejo, que contam com capilaridade nacional e significativa base de clientes”.