O presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), Marcio Serôa de Araújo Coriolano, disse hoje, durante evento promovido pelo Sindicato das Seguradoras do Rio Grande do Sul, que, nos próximos anos, o setor de seguros deverá trabalhar com cinco requisitos para uma nova jornada: a estabilidade regulatória, a regulação contracíclica, a redução dos custos de observância, a ampliação dos canais de acesso ao consumidor e o aperfeiçoamento da comunicação com foco na educação em seguros. Para 2016, segundo ele, diante do atual cenário conjuntural do país, a projeção é de que o mercado cresça entre 9% e 10% em relação ao ano passado.

Marcio Coriolano destacou que os desafios para os próximos anos estão associados a cinco requisitos, os quais têm muito a ver com regulação que pesa sobre o setor, e que conduzirão as propostas de atuação da CNseg para apoiar o mercado diante da atual conjuntura do país. “É um setor estritamente regulado, mas não podemos confundir regulação com aprisionamento. É chegada a hora de o Governo fazer despertar o instinto animal do empreendedor.” Com relação à estabilidade regulatória, Marcio Coriolano enfatizou que o Brasil está convergindo, efetivamente, para padrões internacionais de solvência e contabilidade. Mas, a seu ver, aproximar-se de regras internacionais agora implica em uma pressão relevante sobre capital e patrimônio exatamente em período de ciclo baixo. “Precisamos mesmo caminhar em ritmo acelerado em nossas empresas com um cenário desses e um mercado solvente que nós temos?”, questionou.

– Vamos propugnar as regras perenes que dão estabilidade para o empresário nesse momento. A maturidade e grau de desenvolvido de nosso mercado são distintos daqueles das economias mais avançadas. Já tivemos três encontros com o Ministério da Fazenda e fortalecemos o nosso escritório em Brasília com o objetivo de aumentar a nossa interlocução com os Três Poderes. São centenas de projetos de lei que devem ser acompanhamos no Congresso Nacional – contou o presidente da Confederação.

No que diz respeito ao que Coriolano denomina de “regulação contracíclica”, a agenda regulatória, no seu entendimento, deve ser estabelecida de acordo com os ciclos econômicos. “Temos insistindo, junto às autoridades reguladoras que em períodos de retração, o regulador tem que ajudar o mercado a se tornar solvente, permitindo que seja libertada a criatividade do empreendedor. O Governo tem que entender que somos um setor capaz de despertar investimento, poupança, capaz de despertar a proteção da população, aumentando o bem estar e o bem querer. É preciso recuperar o amor próprio da população brasileira”, enfatizou.

Já no que concerne ao chamado custo de observância, Marcio Coriolano afirmou que o custo normativo para o mercado de seguros é muito alto, especialmente para as empresas de pequeno e médio porte. “Não é possível que o mercado seja levado a assumir um custo desse tamanho, quando deve ser revertido, sim, para o aperfeiçoamento do negócio. O que estamos pleiteando, estritamente, é que se analise o custo benefício de cada norma”, afirmou, completando que o custo de observância em relação ao de operação das empresas é de 2,4% para as de grande porte, de 4,3% para as médias e de 9,2% para as pequenas.

A respeito da ampliação dos canais de acesso aos produtos, o presidente da CNseg frisou que a legislação e a regulação atual engessam a oferta por meios remotos. Nesse sentido, chamou a atenção para o fato de que, quando se defende meios digitais, não se quer dizer afastar, de forma alguma, o corretor de seguros. “É exatamente nesse momento de fragilidade do consumidor, por ele estar com renda menor e ter que exercer escolha difícil com recursos limitados, que a presença do corretor torna-se cada vez mais importante.” Esclareceu o executivo, completando que, a seu ver, uma sociedade que atingiu um grau de maturidade de desenvolvimento em comunicação não pode mais ficar só se comunicando por papel.

No que tange à comunicação com o consumidor, Marcio Coriolano destacou que a importância de ampliar os canais de diálogo com a sociedade. “Realizamos várias pesquisas e identificamos que o setor tem um bom som, mas a sua imagem não é legal. Sabemos que os nossos produtos não são baratos, por mais que nos esforcemos, pois eles têm um grau de proteção bastante alto”, apontou. De acordo com o executivo, a CNseg tem atuado de forma mais ativa no relacionamento com importantes órgãos de defesa do consumidor, especialmente a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (Senacon), com o intuito de mostrar à população a importância do papel desempenhado pelo setor em relação à proteção e segurança. “Temos que vencer a batalha da informação”, reiterou. Projeções para 2016

Marcio Coriolano, que iniciou a sua apresentação abordando o contexto atual do Brasil, ressaltou “o grave momento nos campos econômico, político e também moral e ético.” Para 2016, observou, as projeções para a economia brasileira são ainda mais desafiadoras em relação a indicadores como o IPCA (6,9%), taxa de câmbio (R$/US$ 4,00), taxa Selic (13,25%) e ao desempenho negativo do PIB (- 3,5%). “ O mercado segurador, lembrou ele, já viveu crises no passado, talvez não tão profundas como esta, mas soube superá-las com muita propriedade “, salientou.

– Como diriam os sábios, a crise é a mãe das oportunidades. Se há um setor que tem um papel anti-cíclico é o de seguros. São 115 empresas, 128 resseguradoras cadastradas, 1.173 operadoras de saúde suplementar, 17 sociedades de capitalização, mais de 60 mil corretores de seguros pessoa física, 33.542 corretores de seguro pessoas jurídica, 26 corretoras de resseguros e 203 mil empregos gerados – destacou Marcio Coriolano diante de um público de 130 pessoas, entre as quais muitas lideranças do mercado de seguros gaúcho.

Em relação às oportunidades para o setor, enfatizou Coriolano, há um grande espaço para se aumentar o índice de penetração dos produtos de seguros, previdência privada, saúde suplementar e capitalização no país. “Hoje existem apenas 50,3 milhões de planos de assistência, 21,8 milhões de planos odontológicos, 17,1 veículos segurados, 9,1 milhões de residências seguradas, 23,8 milhões de planos de previdência e 2,1 bilhões de títulos de capitalização.” Nesse sentido, Marcio Coriolano disse que a CNseg está tralhando, junto à Susep, para que sejam aprovados, este ano, os produtos Vida Universal, Prev Saúde e o Seguro Auto Popular. Ainda em relação ao mercado de seguros gerais, mencionou a necessidade aumento das coberturas do seguro rural, uma vez que apenas 15% da área plantada no país é coberta. No que diz respeito à saúde suplementar, destacou a necessidade de revisão do modelo de reajuste do seguro individual, a flexibilização de produtos e a reforma do marco legal do setor. Já na área de capitalização, acentuou o papel deste segmento no sentido de promover a educação em seguros, “uma vez que a poupança, seja ela qual for, é positiva para todos.” Mercado resiliente

De acordo com Marcio Coriolano, o mercado segurador brasileiro sempre respondeu ao ciclo da economia de forma atrasada. “A decisão das pessoas de poupar, de proteger o seu patrimônio, a sua família, a sua saúde, se faz com certo atraso depois destas conquistas terem sido alcançadas”, explicou. Tanto é verdade, segundo ele, que, mesmo em 2012, quando o Brasil apresentou queda do PIB expressiva, o mercado segurador continuou crescendo. “Agora, está acontecendo justamente o contrário. O Brasil conseguiu resistir em 2014, mas, já no final de 2015 se notou um esgotamento dos fundamentos econômicos, nos atingindo duramente.” O executivo lembrou ainda que o mercado segurador evoluiu muito ao longo dos últimos anos, na esteira do ciclo inédito de prosperidade pelo qual passou o país.

– O Brasil experimentou um ciclo inédito de prosperidade, em função dos programas do Governo, especialmente os compensatórios de renda, que terminaram por promover uma inclusão inédita da população de baixa renda no país. Esse ciclo durou pelo menos 12 anos, permitindo o aprimoramento das regras de constituição de provisões, a melhoria dos sistemas de controle, o aperfeiçoamento das técnicas de avaliação e gestão de riscos e a aproximação das regras de capital e de supervisão a modelos internacionalmente aceitos, baseados em risco. Ocorre que o mercado segurador é pró-cíclico. Ou seja, vai bem quando a economia vai bem e sofre quando a economia sofre – explicou o presidente da CNseg.

– A estabilidade econômica representou uma imensa janela de oportunidades para o setor de seguros. Hoje, como cidadãos, todos nós lamentamos muito a ameaça de perder aquilo que foi conquistado pelo país O setor é pró-cíclico. Em 2015, indicou taxas de crescimento foram bastante prejudicadas. Mas, de toda maneira, a taxa média histórica do período foi muito positiva. O seguro de automóvel cresceu 4,4%; o segmento de pessoas e planos de risco, 6%; o de planos de acumulação, 9,8%; o de saúde suplementar, 6,6% e o de capitalização, 6,1%. Notamos que, a partir de 2014, essas taxas de reduziram substancialmente – elucidou.

Ele lembra que, em 2015, o setor de seguros cresceu 11%, em termos nominais, mesmo diante de um cenário de crise. “Os fundamentos estão aí para todo mundo ver: O IPCA teve salto recorde, de 10,67%; o câmbio registrou expressiva deterioração, atingindo U$ 3,84; a taxa Selic, por sua vez, chegou a patamar de 14,25%, o PIB recuou 4,05%, enquanto a confiança do consumidor ficou em 76,7%. Para se ter uma ideia, o produto da indústria da transformação caiu 8,30%, o setor de agropecuária foi o que salvou, diante do dólar valorizado e da vocação do Brasil nesse negócio, além cultivo por meio de tecnologia de ponta. Já o de serviços também caiu (3%)”, destacou. Marcio Coriolano ressaltou ainda outros fundamentos como o aumento da taxa de desemprego (6,9%), o recuo no rendimento real médio das famílias que sustentava o consumo formidável que o país teve (- 6,87%) e os depósitos em poupança caíram 2,67%.

O executivo enfatizou que o mercado registrou, em 2014, uma arrecadação de 324 bilhões e, em 2015, de R$ 364 bilhões. Do total de R$ 37 bilhões acrescidos em volume de prêmios no mercado, disse Coriolano, 87% foram gerados por dois produtos: o de saúde suplementar e o VGBL. Em termos nominais, o mercado de seguro de automóvel apresentou crescimento de 4,9%; o de planos de risco cresceu 6,7%; o de produtos de acumulação, 19%; o segmento de saúde suplementar, 13,2%, e o de capitalização teve um decréscimo de 2%.

– É claro que é um mercado resiliente. Nenhum outro no mundo mostra um resultado fabuloso como esse, com as provisões técnicas, no total de R$ 680 bilhões, crescendo mais que a arrecadação dos prêmios. O Governo tem que apoiar o setor, sobretudo pela sua importância em formar uma poupança dessa magnitude. Poupança esta que serve para financiar todo o tido de investimentos e negócios – argumentou o executivo.