A tecnologia entra na vida das pessoas de tal maneira que, depois de um tempo, não pensamos mais nela quando a utilizamos. Ocorre, por exemplo, nos processos de operações bancárias por celular ou na simples troca de informação via aplicativos. O mesmo está acontecendo agora com a telemedicina, que tem se tornado rapidamente um processo natural de acesso à saúde, encurtando distâncias e ampliando possibilidades de assistência.

O desenvolvimento e a expansão da telemedicina foram tema do webinar “Telemedicina no novo normal”, promovido pela FenaSaúde na tarde desta quinta-feira (16/7), com a participação de alguns dos maiores especialistas do assunto no país: Chao Lung Wen, chefe da disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP; Erno Harzheim, ex-secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde; e Roberta Grabert, graduada em telemedicina pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

“A telemedicina representa o encontro de duas ondas gigantescas que envolvem completamente nossas vidas. A primeira é a tecnologia em redes, que vem alterando radicalmente o viver no mundo. A outra onda – tão inesperada, de maneira que o passado recente hoje parece tão distante – foi a própria covid-19, que acelerou o processo de convivência à distância”, afirmou a diretora-executiva da FenaSaúde, Vera Valente, que mediou o webinar.

Prevenir doenças

Chefe da disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP, Chao Lung Wen trabalha com a ideia de medicina conectada. Lembrou que, desde 2002 até pouco antes da chegada da pandemia, a medicina pouco caminhou no que diz repeito à regulação. Mas avançou abruptamente depois do coronavírus. “Nas crises é que ocorrem as oportunidades e surgem os perigos”, ensinou.

A telemedicina, segundo ele, será julgada e cada vez mais valorizada na medida em que entregar resultados e serviços que vão muito além da busca de cura de quem já está doente. “A telemedicina não vai apenas cuidar de doença, mas da gestão de qualidade de saúde, de evitar que pessoas saudáveis fiquem doentes”, afirmou.

Wen também defende formação específica sobre o tema para os profissionais da área. “O futuro é educação, educação e educação. A telemedicina precisa ser obrigatória na graduação e na residência. E a formação em teletecnologia, para os demais profissionais”.

Menos fila

Responsável pelo bem sucedido programa de telemedicina da prefeitura de Porto Alegre, onde ocupou o cargo de secretário de Saúde, o médico de família Erno Harzheim relatou sua experiência na capital gaúcha. Lá o modelo conseguiu reduzir filas de espera por atendimentos em até 60%, com a definição de critérios de gravidade para atender presencialmente ou via telemedicina.

“Os médicos ordenaram de forma inteligente a maneira de atender os pacientes. De 90 mil, a fila caiu para 40 mil pessoas depois de dois anos”, contou Harzheim, que também foi secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde (2019-2020).

Lei simples e abrangente

Graduada em telemedicina pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Roberta Grabert participou da elaboração do projeto de lei n° 1.998/2020, apresentado pela deputada Adriana Ventura (Novo-SP) para regulamentar a telemedicina na pós-pandemia e em tramitação na Câmara dos Deputados.

Ela defende que o projeto que vier a ser aprovado seja simples, de maneira a oferecer segurança jurídica e autonomia para os profissionais. “O brasileiro é viciado em lei. A gente tem lei para tudo. As leis têm de ter um arcabouço legal, ser bem pequenininhas, para abraçar as políticas públicas, que são infralegais”, afirmou.