A escalada dos custos e a variabilidade na qualidade dos serviços ameaçam a sustentabilidade do Sistema de Saúde de forma global. Em vários países, dentre eles o Brasil, observou-se em 2019 uma diferença de dois dígitos entre a inflação geral e a inflação médica (4,2% e 17%, respectivamente).

Apesar do investimento crescente, há evidente falência do sistema atual em prevenir doenças e em garantir o acesso universal aos serviços de saúde. Além disso, há pouca transparência em relação aos custos e aos desfechos dos tratamentos realizados. Quando tais dados estão disponíveis, o que se observa é uma enorme variabilidade indesejada de prática, de custos e de desfechos que resultam em desperdício de cerca de 30% dos recursos aplicados em saúde.

Diferente das melhorias incrementais que vêm sendo propostas para aumentar a qualidade na assistência e reduzir a escalada insustentável de custos na saúde, tais como a implementação de protocolos clínicos baseados em evidência, projetos de melhoria contínua, gerenciamento de casos, coparticipação, entre outras, a estratégia do Value-Based Health Care – VBHC (Cuidado Baseado em Valor) pressupõe uma verdadeira transformação do sistema de saúde com restruturação da forma como são prestados, monitorados e remunerados os serviços de saúde.

Sob esta ótica, as melhorias incrementais tornam-se ferramentas que auxiliarão na operacionalização do novo sistema baseado em valor. Entre elas, estão as clínicas de Atenção Primária à Saúde (APS), que têm sido consideradas as melhores portas de entrada dos pacientes e deveriam ter como meta principal o estabelecimento de uma relação de confiança de longo prazo com os pacientes e com a comunidade.

As clínicas de APS também são componentes fundamentais para o estabelecimento das ACOs (Accountable Care Organizations), que são organizações por meio das quais os provedores dos diversos níveis de atenção (primária, secundária, terciária e quaternária) se unem para prestar um cuidado coordenado com foco na qualidade e na saúde populacional e compartilham o risco e a economia gerada.

Em um país em que a remuneração é baseada na quantidade de serviços prestados e não na entrega de valor ao paciente, essa mudança cultural se torna um dos maiores desafios dos sistemas de saúde. Porém, apenas com essa transformação, é que será possível conquistar a sustentabilidade financeira e, assim, levar mais saúde para mais pessoas.