Em meio à complexidade crescente do setor de saúde no Brasil, no qual desafios, como a limitação de recursos e a necessidade de incorporação de novas tecnologias são constantes, surge uma demanda urgente por líderes capazes de navegar esse cenário com competência. A liderança em saúde, hoje, exige mais do que conhecimento técnico, demanda uma visão estratégica que englobe desde a gestão de custos até a implementação eficaz de tecnologias digitais, sempre com o foco na experiência do paciente. Adaptabilidade, inovação e um profundo entendimento das dinâmicas do setor são, portanto, as novas marcas de um líder bem-sucedido. Entenda quais características e habilidades indispensáveis ao líder em saúde, e como desenvolvê-las.

Equilíbrio entre tecnologias, gestão e foco no paciente

No Brasil, o sistema de saúde enfrenta diversos desafios, como baixo orçamento e a adesão a novas tecnologias que prometem melhorar o atendimento e contribuir para a sustentabilidade do setor.

Nesse contexto, diversas competências e habilidades passam a ser exigidas do líder em saúde, como entender custos, financiamento em saúde, assistência e ferramentas tecnológicas que impulsionem o cuidado. Saúde digital, incorporação e regulação de novas tecnologias, gestão da cadeia de suprimentos e de pessoas, por exemplo, são temas que cada dia são mais comuns para quem atua na área.

A incorporação de novas tecnologias é essencial para a melhoria dos serviços de saúde, o que requer dos líderes uma maior compreensão das tendências tecnológicas e como implementá-las de forma eficaz. Já a gestão de pessoas envolve a capacidade do profissional de liderar equipes multidisciplinares, o que inclui, além de habilidades para gestão de conflitos, a motivação da equipe e o desenvolvimento profissional contínuo dos colaboradores.

Priorizar as necessidades do paciente deve ser o foco do líder, promovendo, além da cultura de cuidado, a melhoria da experiência do indivíduo. Andrea Bocabello, diretora de Estratégia, Inovação e ESG do Grupo Fleury, acredita que, hoje, é fundamental as lideranças compreenderem o que é o mundo digital para o paciente. “A medicina é phygital, por isso, o líder precisa encontrar o equilíbrio entre o que o paciente espera e o que ele, como líder, deve fazer para garantir a segurança e a qualidade no atendimento. O líder tem que ter sensibilização quando entra no mundo da tecnologia, e esse é um dos principais desafios que temos enfrentado entre as lideranças em saúde.”

Competências e habilidades exigidas da liderança

“Vivemos em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo, no qual as mudanças e imprevistos ocorrem em grande volume e velocidade. Em meio a esse cenário, competências como resiliência, resolução de conflitos e colaboração são cruciais para o fortalecimento das equipes e a consequente melhoria da experiência do paciente. Também acredito ser fundamental para um líder em saúde a escuta ativa. Essa competência é desenvolvida em meio a uma cultura justa, na qual os colaboradores se sentem seguros e livres para trazer suas sugestões, reportar eventuais falhas, erros e não conformidades”, comenta Nelcina Tropardi, diretora-geral de Jurídico, Relações Governamentais, ESG e Compliance na Dasa.

Para Tacyra Valois, diretora-executiva do CBEXs, a dinâmica atual do sistema de saúde exige profissionais com conhecimentos e habilidades para exercer a liderança em áreas diversas, o que exige deles capacidade crítica, analítica e de tomada de decisão; capacidade de ação e implementação das mudanças; capacidade de diálogo e entendimento das diversas partes interessadas; visão ampla da dinâmica do sistema de saúde; capacidade de solução de problemas complexos; compromisso com o aprendizado constante e inteligência emocional.

Além disso, habilidades como comunicação, adaptabilidade e empatia devem sempre estar presentes.

De olho nos novos modelos de negócios

Dentro das competências e habilidades exigidas dos líderes, Andrea destaca uma tendência do setor que precisa ser observada com atenção. Trata-se de um novo modelo de negócio no qual hospitais e laboratórios passam a atuar de maneira mais integrada, e, segundo ela, é preciso preparar os líderes médicos para essa nova realidade.

“Nesse cenário, as ferramentas de gestão precisam ser criadas do zero, porque não temos parâmetros que possam servir de benchmarking. Quem trabalha em hospital precisa conhecer as rotinas dos laboratórios, e vice-versa. Esses novos modelos de negócio passaram a ser um assunto urgente. Velocidade de desenvolvimento, complexidade do conhecimento exigido, aprender a lidar com máquinas e entender a nova relação digital que é esperada são tópicos aos quais temos que estar atentos”, diz Andrea.

Formação contínua e de programas de desenvolvimento

A pesquisa nacional Atlas-CBEXs 2024, realizada com mais de 1.500 gestores de saúde, destacou que, quando perguntados sobre a satisfação com o investimento que a empresa tem realizado para a capacitação da liderança e de profissionais técnicos, é notório que há insatisfação por parte dos profissionais – 43% no que tange à capacitação de liderança, e 41% no que tange à capacitação dos profissionais técnicos.

Sessenta por cento dos respondentes disseram que a capacitação em gestão de negócios está em desenvolvimento na empresa em que atuam, enquanto 22% consideram que atendem plenamente às expectativas e apenas 5% relatam que o investimento supera as suas expectativas. No universo da pesquisa Atlas, 88,67% dos respondentes receberam até cinco treinamentos de liderança/gestão nos últimos 24 meses. “Concluindo, há necessidade de ampliação de investimento em formação e educação continuada no sistema de saúde como um todo”, avalia Tacyra.

Diante da necessidade de preparar os líderes para a saúde digital, Rúbia Spindola, diretora de Pessoas, Cultura e Desenvolvimento Organizacional do Grupo Fleury, conta que a empresa desenvolveu um projeto de aceleração digital e evolução cultural que permeia desde uma definição de novos papéis, com foco no desenvolvimento da liderança, até o reposicionamento das competências da organização, apontando o que o novo líder precisa desenvolver em termos de habilidades capazes de atender à aceleração digital, eficiência, excelência e experiência do cliente.

“Focamos em sete competências: colaboração, desenvolvimento de si e dos outros; orientação a valores e consciência da diversidade; foco na experiência do cliente; orientação para o resultado; desenvolvimento de um ambiente de confiança e segurança; inovação e mindset ágil e colaborativo”, cita Rúbia.

Andrea complementa, dizendo que a empresa busca envolver seus colaboradores em vários projetos, fazendo assim com que as pessoas possam migrar em carreiras dentro da companhia. “Incentivamos a mudança de área focada em projetos específicos, com missões ao longo do ano.”

Já a Dasa investe em diversos programas de formação continuada tanto para colaboradores quanto para médicos. Um deles é a Academia de Liderança Dasa, voltada para lideranças, composto por vários módulos de treinamento para desenvolvimento de competências, separados por nível.

“Contamos também com o Programa Liderança DNA, produzido em parceria com a HSM e a Singularity University. Trata-se de um programa robusto, com conteúdo customizado para o nosso time, flexível e adaptável para apoiar nossos gestores a se desenvolverem e crescerem junto com a companhia. Com ele, formamos dentro de casa, com nossa cultura, a atual e futura liderança da empresa”, destaca Nelcina.

Ela cita ainda o Dasa Educa, programa de educação continuada para profissionais da saúde que conta com mais de 50 mil médicos inscritos e mais de 2 mil horas de conteúdo disponível: 92% dos médicos que participam do programa permanecem na Dasa.

Mas Daniela Toledo, gerente executiva da Michael Page, destaca também o papel das parcerias entre instituições de saúde e universidades e startups para o desenvolvimento de competências e habilidades para o líder em saúde, além dos cursos de pós-graduação em Saúde.

Preparo do profissional diante das novas tecnologias

Um fator se destaca entre os líderes em saúde quando o tema são as competências e habilidades exigidas do gestor: a necessidade de adaptação e preparo diante das novas tecnologias, seja para implementação ou integração de sistemas.

Para Daniela, com a saúde cada vez mais digital, é preciso garantir a ética no uso dos dados, além de atenção maior nas regulamentações, que são complexas e rigorosas, e exigem, por isso, uma constante atualização.

 “Acolher a tecnologia como realidade e como um meio é hoje essencial e perpassa a liderança. Estamos diante de um ambiente complexo onde as áreas precisam acompanhar as tendências, e onde a liderança assume uma responsabilidade maior. Cabe às empresas serem parceiras das lideranças no desenvolvimento de carreira, ajudando a desenvolver competências técnicas em um contexto mais digital, onde a relação com o cliente muda no sentido de ambidestria, excelência médica, eficiência, e em como lidamos com a complexidade atual”, analisa Rúbia.