À medida que avançamos no século XXI, a transformação digital não apenas altera o modo de vida, mas também redefine o cuidado da saúde. Para as crianças que nasceram em 2024, o futuro do atendimento médico promete ser radicalmente diferente do que é hoje.

A tecnologia, liderada pela telemedicina e pela inteligência artificial, está no centro dessa revolução, prometendo tornar os cuidados mais acessíveis e eficazes. No entanto, conforme essa nova realidade se aproxima, surgem desafios críticos, como a equidade no acesso, a preservação da humanização no atendimento e a proteção dos dados sensíveis dos pacientes. O assunto foi discutido no Future of Digital Health International Congress (FDHIC).

Impacto da tecnologia na saúde

Prevê-se que as crianças nascidas em 2024 vivenciarão um sistema de saúde muito diferente do atual. A telemedicina e a inteligência artificial (IA) estarão no centro dessa nova cadeia, substituindo em grande parte as consultas presenciais com médicos.

A adoção dessas tecnologias promete uma maior eficiência e acessibilidade, permitindo diagnósticos mais rápidos e precisos. No entanto, essa transição levanta questões sobre a qualidade do cuidado e a capacidade do sistema de saúde de se adaptar às novas tecnologias, além de preocupações com a humanização do atendimento e a privacidade dos dados dos pacientes.

Heterogeneidade no acesso à tecnologia

A penetração e o uso da tecnologia já são e, provavelmente, continuarão sendo heterogêneos, com diferenças significativas no acesso e adoção. Essa desigualdade pode aumentar ainda mais as disparidades sociais e de saúde já existentes, criando um cenário em que as tecnologias avançadas são experimentadas apenas por quem tem mais dinheiro.

No campo da saúde, essas desigualdades tecnológicas podem ter consequências graves. O acesso desigual a tecnologias de saúde, como assistência médica remota e aplicativos de monitoramento da saúde, entre outros, fará com que desigualdades no tratamento e atendimento entre grupos sociais diferentes seja ainda maior.

Comunidades de baixa renda ou áreas rurais podem enfrentar dificuldades maiores em acessar esses recursos, levando a um diagnóstico tardio de doenças, menor acompanhamento de condições crônicas e, consequentemente, piores resultados de saúde.

Por exemplo, a telemedicina tem o potencial de transformar o atendimento médico, tornando-o mais acessível. No entanto, para que todos possam se beneficiar dessa tecnologia, é necessário garantir que todas as famílias tenham acesso à internet de alta velocidade e dispositivos compatíveis. Sem isso, a telemedicina pode acabar ampliando a lacuna entre aqueles que já têm acesso fácil aos serviços de saúde e aqueles que não têm.

Além disso, a adoção de tecnologias de saúde requer um certo nível de alfabetização digital. Indivíduos que não têm habilidades tecnológicas básicas podem achar difícil usar aplicativos de saúde ou plataformas de telemedicina, mesmo que tenham acesso a eles. Isso reforça a necessidade de programas de educação e treinamento em tecnologia para garantir que todos possam utilizar esses recursos de forma eficaz.

Portanto, as políticas públicas destinadas a melhorar a equidade do acesso à tecnologia serão essenciais para garantir que todas as crianças e as suas famílias tenham acesso às inovações independentemente da sua localização geográfica ou situação económica. Essas políticas podem incluir investimentos em infraestrutura digital, programas de alfabetização digital, subsídios para dispositivos tecnológicos e incentivos para o desenvolvimento de tecnologias de saúde acessíveis.

Privacidade de dados sensíveis x inteligência artificial

A rápida evolução tecnológica no campo da saúde traz à tona uma série de questões éticas que precisam ser consideradas e abordadas. A privacidade dos dados é uma delas.

Com o aumento do uso de dispositivos tecnológicos e sistemas de IA, a coleta e o armazenamento de grandes volumes de dados de pacientes se tornaram comuns. Esses dados incluem informações sensíveis, como históricos médicos, resultados de exames, e dados genéticos.

É preciso garantir que os sistemas de armazenamento e transmissão de dados sejam seguros e que os pacientes tenham controle sobre suas informações pessoais. Por isso, o setor discute que regulamentações devem ser implementadas para proteger os dados contra acessos não autorizados e para garantir que eles sejam usados de maneira ética e transparente.

Já temos a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) que é bem atuante em nosso país, mas agora que inteligência artificial está ganhando força em empresas de saúde, outras regulamentações voltadas para este tópico devem ser criadas nos próximos anos.

Automatização e personalização na medicina

O avanço da automação na medicina representa uma revolução em várias áreas, desde análises clínicas até diagnósticos por imagem. Tecnologias como tomografia computadorizada e ressonância magnética têm transformado especialidades médicas, oferecendo maior precisão nos diagnósticos e permitindo intervenções mais rápidas e precisas. Esses avanços não só aceleram o processo diagnóstico, mas também possibilitam a identificação precoce de condições médicas complexas, muitas vezes antes mesmo de sintomas clínicos se manifestarem.

Além disso, a personalização dos cuidados médicos está se tornando uma realidade tangível graças ao uso de testes genéticos avançados e biomarcadores. Essas tecnologias permitem aos profissionais de saúde adaptarem tratamentos de forma mais precisa às características genéticas e biológicas individuais dos pacientes. Isso não apenas melhora a eficácia dos tratamentos, minimizando efeitos colaterais desnecessários, mas também abre portas para novas abordagens terapêuticas direcionadas, especialmente em doenças complexas e crônicas.

A combinação de automação e personalização na medicina não apenas otimiza a eficiência dos serviços de saúde, mas também promove uma abordagem mais centrada no paciente. Ao integrar tecnologias avançadas com cuidado humanizado, é possível melhorar os resultados clínicos e proporcionar uma experiência de cuidado mais empática e personalizada para os pacientes.

Ou seja, a saúde vai ser entregue de forma muito mais automatizada e personalizada para as crianças que nasceram nos últimos anos. Porém, assim como acontece hoje, essa entrega pode ser prejudicada por marcadores sociais, que desfavorecem aqueles que vivem com menos dinheiro, acesso, saneamento, tecnologia e condições básicas de saúde.