Dois dos pontos mais críticos para o setor de saúde suplementar, o uso e o custo dos serviços, foram analisados pelo Panorama trimestral financeiro e operacional da saúde suplementar, divulgado nesta quinta-feira (19/9) pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp). O levantamento concluiu que não há uma sobreutilização generalizada dos produtos e nem um aumento difuso dos custos de operação.

Ao contrário, “constata-se um comportamento de redução, na maior parte dos casos, do uso dos serviços da saúde suplementar por pessoa. Com exceção do aumento de 18% no número de exames por beneficiário, todos os demais grupos de atendimento apresentaram resultados inferiores (como no caso das consultas médicas e internações) ou levemente superiores (como em outros atendimentos ambulatoriais) aos registrados em 2019”, diz o relatório em relação aos procedimentos por beneficiário.

Os números por beneficiário se tornam relevantes no contexto à medida que o índice geral de procedimentos aumentou, mas de forma proporcional ao incremento na quantidade de pessoas usando os serviços. O texto destaca que o total de internações aumentou 6% entre 2019 e 2023. O relatório enfatiza que este índice é próximo à ampliação de beneficiários no mesmo período; 8%, saindo de 47 milhões para 51 milhões, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Isso resultou em um índice de procedimentos por beneficiário menor que no período pré-pandemia. Em 2019, a média era de 6 consultas médicas, 4,7 consultas ambulatoriais, 1,2 consultas em pronto-socorro para cada pessoa que usa a saúde suplementar. No ano passado, foram 5,5, 4,1 e 1,3, respectivamente.

Em conversa com o JOTA, o diretor-executivo da Anahp, Antônio Britto, avaliou a situação. “Em relação aos exames, vejo três problemas principais: o primeiro é que quase nenhum brasileiro tem um médico de família que o acompanha. A maior parte das pessoas, quando vai ao consultório, conhece aquele profissional pela primeira vez. Uma segunda questão é uma certa insegurança por parte dos profissionais jovens, o que os leva a esgotar todas as ferramentas antes de fechar um diagnóstico”, explicou.

Para Britto, o terceiro fator é comportamental e está ligado a um hábito, especialmente em relação às pessoas com maior poder aquisitivo. “Também há uma questão cultural da população, que não se sente bem atendida se não sair do consultório com uma lista de exames a fazer”, detalhou. Segundo ele, trazer esses dados à tona é importante para que o setor mapeie onde estão os problemas e consiga lidar com eles.

A realização de exames aumentou 18,44% no período, chegando a 1,1 milhão. Também entre 2019 e 2023, o número geral de procedimentos cresceu 17%, alcançando 1,9 bilhão.

Custos

O relatório também faz uma ponderação da variação dos custos nos últimos cinco anos, com um salto de 40% no total. A subida foi puxada pelas terapias (com alta de 79%), demais despesas médico-hospitalares (76%) e outros atendimentos ambulatoriais (67%).

Questionamento de contas

O documento faz ainda uma avaliação da retenção de pagamentos entre os trimestres de 2023 e 2024 (último dado fechado). Os valores questionados pelas operadoras de planos de saúde ainda em fase de negociação caíram de 9,27% para 8,87%.

Segundo Britto, esse pode ser um indicativo de melhora nas contas das operadoras. “O aumento [da suspensão no passado] foi uma estratégia das operadoras para atrasar o pagamento e reduzir o déficit nas contas, aumentando o prazo em que elas pagam para os hospitais. Achamos que essa levíssima redução é porque as operadoras melhoraram de situação financeira e por isso ela começa a reduzir os prazos”, comentou.