Acompanho com frequência as excelentes discussões propostas pelos colunistas do Saúde Business e, agora, também tenho o privilégio de dividir minhas reflexões neste espaço.

E, como ponto de partida, trago para debate o apontamento do título do texto – certamente, um tema que envolve onze entre dez gestores do nosso setor. Diariamente, o mercado da saúde procura caminhos para fortalecer sua sustentabilidade, um assunto crítico globalmente. Enfrentamos desafios complexos que envolvem garantir o fornecimento de serviços com qualidade, de forma acessível, aumentando a eficácia, mesmo em face de condições econômicas adversas ou mudanças na demanda.

Revisitando um estudo do Insper que descreve as relações e problemas entre os diversos atores da cadeia da saúde publicado em 2016, quase uma década atrás, identifico que as questões trazidas na pesquisa são essencialmente as mesmas de hoje, a despeito dos eventos ocorridos através dos anos, incluindo a pandemia, alterações regulatórias e cenário econômico. Em resumo, o relatório aponta três principais problemas: nos modelos de contratação e remuneração dos prestadores de serviço de saúde; nas regras de transparência e responsabilização dos agentes; e nas formas de contratação de planos de saúde e transparência nos indicadores de qualidade.

Ressalto que todas as questões apontadas se referem às interlocuções entre os players do mercado e, por consequência, demandam soluções cooperadas pelos respectivos atores. Quando discutimos as fragilidades do fee for service, a proposta de construção de novos modelos exige alinhamentos entre as fontes pagadoras, os prestadores de serviços, médicos e fornecedores. Estes acordos, portanto, deveriam partir do princípio pelo qual a sustentabilidade de um está ligada à dos demais entes do mercado. A competição é legítima e saudável para o mercado, mas neste caso ela é coletiva – no sentido de que é uma competição pela manutenção de um setor contra sua extinção.

Certamente, desde o estudo, avançamos em alguns pontos. O desenvolvimento de indicadores de qualidade tem ampliado a transparência dos dados para o mercado, possibilitando uma melhor análise e definição de contratos entre os players. Ainda assim, temos muito espaço para aprimoramos nossos modelos e metas.

Os movimentos recentes de M&As, joint ventures e consolidação do setor apontam para a busca de soluções que integram esforços de atores diversos da cadeia indicando que, embora as ações individuais sejam fundamentais para a superação dos desafios, a coordenação de interesses e objetivos é uma premissa que está na agenda dos players.

Toda a cadeia é afetada por movimentos internos e externos ao setor, e a construção de um mercado que possa, ao mesmo tempo, manter o desenvolvimento sustentável e promover seu papel social, demanda o rompimento de uma lógica individual, partindo para a criação de ecossistemas que possam se equilibrar do ponto de vista financeiro e assistencial.

A jornada para conquistar a sustentabilidade passa pelo esforço contínuo para redução de custos por meio do aumento da eficiência, da ampliação da estratégia digital para integração em rede e do pensamento voltado para o cuidado preditivo. O aproveitamento de sinergias entre os elos do setor contribui substancialmente para a promoção da qualidade assistencial e ampliação do acesso. Se as soluções são coletivas, a “competição” no segmento é pela cooperação para o desenvolvimento sustentável a longo prazo de todo o mercado.