No início deste mês, participei do Saúde Business Fórum, um dos mais prestigiados eventos do setor no país. Fui convidado a participar de um debate sobre as tendências do mercado de healthcare no início da próxima década, um tema instigante e necessário.

Enquanto reunia minhas reflexões, me aprofundei nas projeções de população 2024 divulgadas pelo IBGE, baseadas no censo 2022. Elas apontam que em menos de duas décadas, o país terá um contingente populacional menor e mais idoso. Em alguns estados, como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Alagoas, essa inversão na pirâmide demográfica está prevista para antes do final desta década.

Esses dados reforçam a necessidade de todo o sistema de saúde, tanto público quanto privado, se preparar para o cenário projetado para os próximos anos, além da próxima década. Segundo as projeções do IBGE, até 2070, quase 40% da população do Brasil será composta por pessoas com 60 anos ou mais, um crescimento exponencial em relação aos números atuais. A expectativa é que o contingente de idosos mais que dobre, passando dos 33 milhões para 75,3 milhões. Em consequência desta transição demográfica, espera-se um aumento da prevalência de doenças crônicas e o consequente aumento dos custos financeiros.

Temos uma janela de oportunidade para desenvolver e aprimorar soluções utilizando os recursos tecnológicos em ascensão. Entre essas oportunidades, acredito que é preciso impulsionar ações que permitam a digitalização completa e a comunicação entre os diferentes sistemas, garantindo que a gestão dos dados seja feita de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados. Com o uso de ferramentas como inteligência artificial e análise de grandes volumes de dados, podemos fornecer informações de alta qualidade para auxiliar na tomada de decisões em diversas áreas, atendendo tanto às necessidades individuais quanto às de grandes grupos populacionais.

Temos usado, por exemplo, data mining em laudos buscando através de algoritmos achados que possam estar relacionados a dezenas de doenças, alertando o médico prescritor a respeito e encurtando o início do tratamento quando necessário. Na saúde pública e privada, o fortalecimento da atenção primária utilizando estratégias de telemedicina, por exemplo, já tem se mostrado um caminho vantajoso para enfrentar essas adversidades, com os devidos ajustes e arranjos locais.

Em paralelo à profunda transformação demográfica em vista, é preciso considerar também que as mudanças climáticas e o aumento de catástrofes naturais têm impacto importante na saúde. O cenário climático europeu atual, por exemplo, já favorece a proliferação de mosquitos transmissores de doenças como dengue, chikungunya e zika, típicas de regiões tropicais. A evidência disso é o aumento significativo de casos dessas enfermidades em países como Espanha, França e Itália em 2022, quando se comparado aos dois anos anteriores.   Neste sentido, a tecnologia é novamente uma aliada ao possibilitar iniciativas que possam antecipar grandes tendências de perfis infecciosos ocasionados por esses eventos climáticos, utilizando ferramentas de IA para verificação de volumes massivos de exames, além do monitoramento genético dos patógenos.

A evolução do modelo de saúde brasileiro para que seja cada vez mais acessível, integrado e eficiente é um desafio imenso, especialmente pela enorme população que somos. De toda forma, temos condições de organizar os entes público e privado para criar soluções eficazes com foco na qualidade de vida da população, independentemente da idade.