A migração das carteiras empresariais para planos de saúde mais baratos e a queda no número de beneficiários do mercado privado, em razão do desemprego, deixam hospitais em alerta para 2016. Para resistir, empresários aceleram investimentos em modelos de diagnóstico e segmentação em busca de rentabilidade.

Em setembro, o setor de saúde suplementar registrou 50,2 milhões de beneficiários de planos médico-hospitalares, queda de 0,3% em 12 meses, perda de 164,4 mil vidas. “Mais do que a saída, o que preocupa é o downgrade das carteiras. Uma forma do mercado se defender, mas que arrisca o setor”, ressalta o diretor superintendente do Sistema de Saúde Mãe de Deus, Alceu Alves da Silva.

O médico explica que, por ser um dos maiores desejos da população e principal ferramenta de benefício de trabalho, o plano de saúde não deixará de ser oferecido a colaboradores. No entanto, para conseguir continuar pagando neste momento de instabilidade econômica, as empresas deverão migrar para carteiras mais baratas, reduzindo a margem dos hospitais. “Quando a economia retomar, o crescimento do setor também voltará, mas preocupa o retrocesso. Crescemos 2% ao ano nos últimos dez anos”, ressalta.

Segundo ele, para manter a rentabilidade, os hospitais deverão analisar estruturas, além de rever processos, quadro de pessoal e custos fixos. “É necessário ser seletivo também nos investimentos para não perder liquidez”.

Silva contou que, em 2016, o sistema deve realizar investimentos entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões. “Também teremos um movimento forte de especialização”. A explicação é que algumas especialidades deixam mais margem de ganho do que outras e o hospital será mais direcionado nessas áreas. “Apesar de 40% dos pacientes entrarem por emergência, a captação dos outros 60% será mais focada”, cita.

Impacto

Segundo o presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), Francisco Balestrin, o impacto é maior nos planos de saúde, uma vez que foram as carteiras mais arejadas (com mais jovens) que diminuíram. “Mas do ponto de vista dos hospitais, diminuiu o número de procedimentos de alta complexidade”, aponta o executivo.

O médico explicou que a instabilidade econômica tem deixado os beneficiários com medo de tirar licenças longas que possam prejudicar o emprego. “E quando os custos crescem mais que a demanda, as margens caem”, diz.

Para reduzir despesas, 20 hospitais da Anahp estão testando o modelo de diagnóstico Grupo de Diagnóstico Relacionado (DRG), que utiliza a informação coletada de outras internações na hora de decidir um tratamento. Além disso, a entidade deve iniciar no ano que vem um sistema de compra conjunta entre os associados para conseguir escala e diminuir preço dos insumos. “Teremos um ano mais difícil (2016), mas os hospitais estão fazendo sua lição de casa”, conta.

De acordo com o CEO dos hospitais Bandeirantes e Leforte, Rodrigo Lopes, caso não seja contornado, o downgrade pode provocar nos hospitais em 2016 uma redução de tíquete médio e também do volume de atendimentos. Para ele, a mudança do perfil de beneficiários para planos mais populares vai demandar dos hospitais a busca por novos modelos, produtos e negócios, a fim de atender o mercado. “Vamos manter uma gestão focada na avaliação dos custos e recursos, além da promoção dos nossos serviços, adequando nossos produtos ao mercado atual”, explicou. Uma das ações que o Bandeirantes e o Leforte realizaram este ano foi aumentar o mix de produtos e convênios para elevar o número de atendimentos.

Neste ano, estes hospitais também realizaram investimentos em sistema de gestão hospitalar, telecomunicação, ativos de TI e business intelligence (BI). Só na área de telecomunicações, os investimentos conseguiram reduzir em 40% os custos em telefonia. “A implantação de videoconferência também otimizou tempo e reduziu custos logísticos”, citou.

No Bandeirantes, a modernização do sistema de esterilização de materiais representou uma redução de 100 m³ no consumo de água por mês. Já o sistema de reuso ajudou a diminuir o consumo de 400 m³ de água por mês da concessionária pública. Em 2015, foram investidos cerca de R$ 21 milhões em infraestrutura, modernização, equipamentos e TI nos hospitais Bandeirantes e Leforte .

Custos

O superintendente estratégico corporativo do hospital Sírio Libanês, Paulo Chapchap, diz que ainda não sentiu o impacto da crise. “Mas pode acontecer”, ressalta. Para contornar a situação, o executivo afirma que o hospital tem trabalhado na captação de pacientes. “Vamos trabalhar na tabela de preços, mas para isso temos que diminuir custos”, afirma Chapchap.

Dentro das ações que o hospital realizou este ano para diminuir as despesas está a inauguração do robô que automatiza a dispensação de medicamentos na farmácia do hospital e o início de estudo de vários softwares de remuneração por performance para identificar qual deles se adequa melhor ao empreendimento.

Além das ações de controle de despesas, o executivo afirmou que irão desacelerar a abertura de novos leitos e expansões. Os investimentos dedicados para 2016 serão menores que os dos últimos dois anos e deverão ficar em cerca de R$ 60 milhões. Em 2015, o montante foi de quase R$ 180 milhões. Isso porque, além de terminar um ciclo de investimentos em obras de expansão de novas torres, o médico afirma ser necessário aumentar a cautela com aportes em obras, por causa do Plano Diretor Estratégico (PDE) que limita obras na cidade de São Paulo. Um dos aportes em 2016 será para o novo centro de diagnóstico em Brasília.