O cooperativismo médico no Brasil está em constante evolução, enfrentando desafios significativos enquanto oferece oportunidades promissoras para os profissionais da saúde. No caso dos médicos brasileiros, as cooperativas podem oferecer apoio ao desenvolvimento profissional e financeiro, por meio de serviços como crédito, educação continuada, assessoria jurídica e contábil, entre outros.

Diante dos desafios e perspectivas do cooperativismo médico, Vladimir Duarte, diretor executivo da Unicred, compartilha insights valiosos sobre o papel das cooperativas no desenvolvimento profissional e financeiro dos médicos brasileiros. Confira agora a entrevista exclusiva para o portal Saúde Business.

1. Quais são os desafios e as perspectivas para o futuro do cooperativismo médico no Brasil?

Quando falamos do ecossistema da saúde, o cooperativismo de crédito no Brasil enfrenta diversos desafios em áreas como regulação, sustentabilidade financeira e qualidade dos serviços prestados aos cooperados. Ao mesmo tempo em que nos desafiam, porém, essas lacunas mostram que temos grandes oportunidades de crescimento, sobretudo por representarmos uma alternativa solidária, democrática e participativa de organização dos profissionais da saúde, sempre com a finalidade de permitir que eles possam gerir melhor seus próprios recursos.

2. Quais são os principais programas e serviços que as cooperativas oferecem para o desenvolvimento profissional dos médicos?

Em suma, as cooperativas oferecem serviços e ofertas de crédito mais democráticas aos seus cooperados. O próprio nome já deixa isso muito claro, aliás. Cooperado é muito diferente de cliente. Por ser uma cooperativa de crédito com uma base forte de associados do ecossistema da saúde e, não só isso, ter em sua gênese profissionais que têm origem no setor, a Unicred consegue oferecer condições diferenciadas em produtos como crédito e financiamento voltados para investimento em infraestrutura e equipamentos. Atualmente, possuímos uma ampla rede de seguros, que cobre desde a renda até os bens patrimoniais dos cooperados.

3. Existe algum programa de incentivo à pesquisa e à inovação na área médica?

A Unicred tem um programa chamado Aceleração e Cooperação, que visa incentivar a pesquisa e a inovação e é fruto de uma parceria com a Innoscience, uma consultoria especializada em inovação corporativa. Seu objetivo é encontrar soluções que melhorem os produtos e serviços da Unicred ou criem novas oportunidades de valor para o sistema e seus cooperados. As startups que participam do programa podem realizar um piloto remunerado, fechar parceria com a Unicred e ter suas soluções usadas por mais de 300 mil cooperados em todo o país. O programa nasceu com a meta de promover a transformação digital em nosso ecossistema e, como nossa base de cooperados predominantemente do setor de saúde, acabamos priorizando projetos que tragam esse viés.

Além disso, nossa área de inovação está aberta para parcerias e acordos de cooperação com hospitais e clínicas. No último ano, por exemplo, avançamos bastante neste trabalho de aproximação com essas instituições e pretendemos seguir nessa trilha.

4. Como as cooperativas contribuem para a valorização da profissão médica?

O cooperativismo contribui de diversas maneiras com a comunidade médica, desde a otimização do tempo até os cuidados com a gestão financeira, pontos que, na verdade, se complementam. Falando da Unicred, especificamente, logo que se associa o médico passa a fazer parte de uma rede de cooperação que conhece profundamente os pormenores do seu cotidiano e dos desafios e transformações que têm atravessado o ecossistema da saúde, inclusive sob o ponto de vista das relações trabalhistas. Junto disso, os profissionais têm na filosofia cooperativista em si um grande aliado, pois esta tem como premissa a busca pelo desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida dos seus integrantes.

5. Existe algum programa de parceria entre as cooperativas e outras entidades do setor de saúde?

Uma das formas de atuar que mais valorizamos aqui é a colaboração com entidades do segmento da saúde. Nesse sentido, a Unicred mantém uma parceria com a Anahp, a Associação Nacional de Hospitais Privados, que congrega os principais hospitais de excelência do país. Essa parceria permite aos cooperados da Unicred usufruírem de condições únicas nos serviços de saúde concedidos pelos hospitais filiados à Anahp, além de estimular o compartilhamento de conhecimentos e boas práticas entre as instituições.

Outra parceria estratégica que a Unicred estabeleceu foi com o Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre, resultando na criação do Porto Alegre Health Aliance, uma aliança que integrou os serviços de saúde, educação e pesquisa das duas entidades, gerando valor tanto para os cooperados como para a sociedade. Pensando no futuro, o objetivo é ampliar ainda mais as parcerias com hospitais de referência no Brasil, oferecendo aos cooperados mais alternativas de qualidade e segurança.

6. A Unicred possui planos de expansão para sua atuação no Brasil?

Uma das nossas metas é ampliar o nosso alcance. Hoje em dia, temos uma forte presença nas regiões Sul e Centro-Oeste e vivendo processo de crescimento e consolidação da na região Sudeste. Temos também planos de investir mais na região Nordeste em um futuro próximo. Mais do que planos para o futuro, aliás, é importante destacarmos que a expansão já está em plena atividade. Em 2023, por exemplo, crescemos mais de 20% em indicadores fundamentais como número de cooperados, liquidez geral e ativos totais.

Além do nosso crescimento em si, percebemos que o cooperativismo como um todo vem ganhando cada vez mais destaque no cenário nacional, tendo, inclusive, o Banco Central como um de seus principais entusiastas, à medida que este vê o cooperativismo como uma ferramenta fundamental na democratização do sistema financeiro do país. Para ilustrar um pouco mais a magnitude deste movimento vale olhar para os dados do Sistema OCB, Organização das Cooperativas do Brasil, em 2023, que apontaram para o fato do movimento cooperativista brasileiro ter alcançado marcas expressivas como 4.693 cooperativas e uma base de mais de 20,5 milhões de cooperados. Esse crescimento, refletido pelo aumento de 13,8% no número de associados, superou os 3,6 milhões, demonstrando a força crescente do cooperativismo brasileiro. Outro fator é que as cooperativas conseguiram gerar, no ano passado, cerca de 524 mil empregos diretos no país, evidenciando seu impacto positivo na economia. Com tudo isso, enxergamos que é um modelo que se desenvolveu e tem tudo para crescer ainda mais. Estamos otimistas com essa perspectiva e atuando ativamente em um pilar fundamental para esses próximos passos: a educação de formuladores de política pública e do próprio cidadão a respeito do modelo cooperativista.