Ao longo da pandemia de Covid-19, hospitais tiveram expressivas altas de ocupação de unidades de terapia intensiva (UTIs), foram forçados a reestruturar operações e viram uma redução drástica dos procedimentos cirúrgicos. O conhecimento acumulado com a crise sanitária motiva, agora, planos de expansão e mudanças na oferta de atendimentos de grandes hospitais privados.

Ao menos seis grupos preveem aumento de gastos em pesquisas, ampliação de UTIs, laboratórios de diagnóstico e clínicas de atenção primária à saúde nos próximos seis meses.

Na capital paulista, o Hospital Albert Einstein vai abrir em dezembro um novo centro de ensino e pesquisa, um projeto de R$ 500 milhões. Depois de um baque de 50% na receita bruta em 2020, segundo a direção do hospital, o plano estratégico voltou aos trilhos neste ano, com foco em novas aquisições e parcerias com outros hospitais, investimentos em UTIs, unidades de atenção primária à saúde e estruturas multidisciplinares para atendimento de alta complexidade.

— O grande legado que a pandemia deixou foi a capacidade de transformar alas de apartamentos em alas de UTIs em tempo recorde. Em uma situação hipotética de ter dez AVCs e dez infartos ao mesmo tempo no pronto-socorro, temos hoje condição de transformar leitos rapidamente — conta o médico cirurgião Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. — A atenção primária à saúde vai prevenir mortalidade em outras pandemias. Quem mais morreu na primeira fase da Covid foram os mais doentes, que não controlam (suas comorbidades).

A estratégia também é seguida pelo HCor, em São Paulo, que aposta na descentralização da unidade hospitalar, a partir de uma nova relação das pessoas com a própria saúde. O hospital planeja ampliar a unidade Cidade Jardim, na Zona Sul de São Paulo, e abrir uma nova de medicina diagnóstica, além de outras quatro para exames de rotina.

— Vamos tirar da unidade o paciente não hospitalar. Foi um aprendizado da pandemia: investir em promoção e prevenção de saúde. Os hospitais passam a ser mais um ecossistema de saúde do que apenas um prédio para atender pessoas doentes. Mas vão estar lá para isso também — diz o economista Fernando Torelly, superintendente corporativo do HCor.

No Sul do país, o Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, viveu um “cenário de guerra” no pico da pandemia, ainda com disputa de talentos e trocas de profissionais de saúde. O hospital ampliou números de UTIs, criou o próprio laboratório de pesquisa clínica e investiu pesado em telemedicina. Para o ano que vem, vai abrir um novo prédio só de leitos intensivos.

— O futuro começa a nos mostrar que os hospitais serão um eixo da cadeia na qual se tornam objeto de necessidade para casos mais complexos. Vamos nos preparar para esse paciente, que quer ser atendido perto de casa, com facilidades e tecnologia de ponta — explica o CEO do Moinhos de Vento, Mohamed Parrini.

Os hospitais também terão que ser cada vez mais “cerebrais”, diz, com investimentos em pesquisa e educação. Com a pandemia, a Faculdade de Ciências da Saúde do Moinhos de Vento registrou aumento de 120% na busca pelo curso de graduação em Enfermagem.

No Oswaldo Cruz, que tem duas unidades em São Paulo, os investimentos têm sido direcionados à modernização de estruturas e à inovação, de acordo com o presidente da instituição, José Marcelo de Oliveira.

— Neste ano, nossos investimentos são de R$ 75 milhões, dedicados a melhorias de infraestrutura. Terminamos agora uma revitalização do centro cirúrgico, estamos olhando para revitalização de áreas críticas como emergência nas nossas duas unidades também — disse ele.

A manutenção do quadro clínico, também como atrativo para pacientes de alta complexidade, tem sido outra prioridade.

Atendimento menor

Os planos são anunciados em meio a uma expectativa de retomada, mas em muitos hospitais o volume de atendimentos ainda não voltou aos níveis pré-pandemia, diz Renato Pereira, sócio da consultoria KPMG:

— A situação é que temos hoje mais hospitais em situações financeiras ruins, e isso impulsiona ondas de aquisições — avalia Pereira.

Entre as companhias que também estão investido estão a Rede D’Or, que abriu capital em dezembro de 2020, no terceiro maior IPO no país, e o Grupo Dasa, que fez uma oferta de ações em abril deste ano, além da Hapvida, cuja fusão com a Intermédica depende de aprovação do Cade, órgão responsável por defender a livre concorrência no país.

Os dois primeiros grupos têm investido, também, em competir com instituições de ponta. Nos seis primeiros meses de 2021, a Rede D’Or realizou R$ 3,1 bilhões em investimentos. Entre os projetos está a construção da Maternidade Star, em São Paulo, que será entregue ainda neste ano. Hospitais da marca Star, de alto padrão, também estão em construção em Recife, Salvador e Belo Horizonte.

Para Antônio Britto, diretor-executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), é um momento de retomada dos hospitais com cautela, até porque a pandemia ainda não acabou. Para ele, a pandemia reforçou os pontos fracos e fortes da saúde no Brasil:

— Existe uma busca por mais eficiência nos hospitais, que passa por ganhar escala em muitos casos. A ampliação do número de hospitais pertencentes à rede é uma tendência. Outra é o uso crescente da telessaúde.