A crise causada pela covid-19 levou as atividades de saúde, dentro do Produto Interno Bruto (PIB), às piores quedas em 20 anos em abril, segundo o Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV). Isso porque, com as restrições de circulação de pessoas, para inibir contaminação pelo novo coronavírus, caiu drasticamente o número de consultas e de exames laboratoriais desde meados de março.

No levantamento da FGV, a atividade econômica em abril caiu 9,3% ante março, com recuo de 13,5% na comparação com abril do ano passado, e queda de 6,1% no trimestre encerrado em abril em relação ao finalizado em janeiro. Na mesma pesquisa, em abril, a atividade de saúde pública caiu 11% ante abril do ano passado, e a de saúde privada, recuo de 13,3%, na mesma comparação. Ambas foram as mais intensas retrações da série histórica iniciada em 2000. Isso, na prática, será mais um componente negativo para desempenho do PIB do segundo trimestre, afirmou Claudio Considera, economista da FGV.

Saúde pública e a privada representavam 4,3% do PIB em 2017, sendo a primeira responsável por 2%, e a segunda, por 2,3%, informou a FGV. No monitor da fundação, a saúde pública, que tem fatia de 13% na atividade de administração pública do PIB, contribuiu com 2,9 ponto percentual negativos para a retração de 1,2% naquela atividade em abril ante abril de 2019.

Já a saúde privada, que representa 15,1% da atividade “outros serviços” no PIB, contribuiu com um ponto percentual negativo para a queda recorde de 19,3% naquela atividade no Monitor da FGV em abril.

“As pessoas não vão mais tanto a ambulatórios devido à pandemia, adiam consultas. Não recorrem mais a exames laboratoriais”, comentou o pesquisador. “Pode ser que a parte de internação tenha crescido [por causa da pandemia], mas não o suficiente para compensar as quedas [nos outros segmentos de saúde].”

Outro aspecto citado por ele na pesquisa foi o impacto, nos tributos, da retração na economia de serviços. A queda de impostos sobre produtos e serviços, basicamente IPI e ICMS, foi de 22,3% em abril ante abril do ano passado, também recorde. Até então, a pior queda havia ocorrido em março de 1996 (-12,9%).

Entretanto, Considera reiterou que, tanto o desempenho negativo do PIB, delineado pelo monitor, quanto as taxas referentes à atividade da saúde atingiram “fundo do poço” em abril. “Em maio, deve ficar menos pior”, disse. Ele lembrou notícias de reabertura gradual da economia, já sinalizadas em algumas capitais, que devem contribuir para taxas menos desfavoráveis em maio.