Muita empresa digital saltou de patamar com o aumento de demanda por serviços remotos durante a pandemia, mas pouca gente teve coragem de lançar um negócio já com a crise instalada, conta o Valor Econômico. Os cariocas Igor Pereira e Claudio Adriani decidiram, em março do ano passado, tirar da gaveta uma companhia digital no setor de saúde – nasceu a W.Dental, operadora de plano odontológico que, em menos de um ano, já está em todas as capitais do país. Adicionando 10 a 15 dentistas por dia, a startup formou uma rede credenciada de 18 mil clínicas e consultórios e uma carteira de clientes com 5 mil beneficiários.

Pereira e Adriani lidavam com tecnologia e digitalização de vendas, mas viam o setor de saúde como um mercado ainda carente de serviços digitais. Foi estudando estatísticas e pesquisas de consumo que definiram o nicho – e viram que não seria difícil construir rapidamente uma rede de atendimento de dentistas. “O Brasil tem a maior rede de dentistas do mundo. A cada cinco dentistas no globo, um é brasileiro. Niterói é a cidade com maior número de dentistas per capita”, afirma Pereira.

Foi ali, claro, que os sócios lançaram a operação. Montar rapidamente uma rede de profissionais ajuda a vender o produto, já que ninguém vai se interessar por um plano que tenha meia dúzia de profissionais atendendo. O crescimento exponencial antes de completar um ano atraiu um aporte da Fuse Capital, que acaba de colocar R$ 2 milhões no caixa da companhia em “seed money”. “A rodada série A não vai demorar, é coisa para 6 a 12 meses nesse ritmo de crescimento”, diz Guilherme Hug, sócio da Fuse. A gestora de venture capital já separou recursos para o follow-on.

Esse primeiro capital vai acelerar a entrada em mais cidades, para aumentar a capilaridade da operadora odontológica. A meta é ambiciosa: quadruplicar o número de beneficiários até o fim deste ano, o que significa imprimir o mesmo ritmo de expansão na rede credenciada.

A sacada para atrair o dentista é tornar o atendimento mais dinâmico – com mais possibilidades de receita com atendimento virtual, por exemplo – e fazer com que o dinheiro da consulta chegue mais rápido ao profissional. Em média, os planos pagam os profissionais de saúde em 60 dias, e a W.Dental faz isso em 30 dias, segundo os sócios.

“Um quarto dos atendimentos nesse primeiro ano foi virtual. Às vezes é uma orientação inicial sobre uma dor específica, uma triagem. Minha esposa queimou o céu da boca e resolveu testar – em vez de ir a um consultório em plena pandemia, fez a consulta virtual e o dentista indicou uma pomada”, exemplifica Pereira.

Cerca de 26 milhões de brasileiros têm plano odontológico, de um universo potencial de 120 milhões, segundo a W.Dental. Os maiores planos odontológicos do país hoje são vendidos de forma casada com planos de saúde – mas, como representam 2% da receita de uma grande operadora, não são o foco estratégico.

“Ainda é um volume limitado de beneficiários, mas há 10 anos eram apenas 13 milhões. Dos 26 milhões atuais, três quartos são funcionários de médias e grandes empresas”, diz o fundador. Por isso a companhia quer centrar esforços na venda de planos individuais e para pequenas empresas. O empresário foi vice-presidente da OLX Brasil e da Super Warehouse em San Diego e destaca que, no modelo digitalizado, a operadora demanda baixo capex. Pode não ser intuitivo que a preocupação com cuidado bucal tenha crescido na pandemia, quando a cabeça do brasileiro estava ocupada com outras questões de saúde e também financeiras.

“O comportamento mudou de uma atitude reativa a doenças para uma postura proativa à saúde”, afirma Hug, da Fuse Capital, que avaliou quase 100 startups de saúde no ano passado. A W.Dental é o primeiro aporte do fundo no setor.