O modelo da remuneração médica é um dos temas mais debatidos na saúde suplementar. O mais usado é o pagamento por serviço, que acaba estimulando o volume e a complexidade do que é ofertado, encarecendo os custos das operadoras de saúde e também dos prestadores de serviços do setor. Os últimos números divulgados pela Agência Nacional de Saúde (ANS), relativos a 2022, indicam aumento expressivo da sinistralidade, que se refere ao uso dos planos de saúde pelos clientes. No terceiro semestre do ano passado, o percentual de sinistralidade chegou a 93,2% e a média acumulada no período foi de 90,3%.

Uma nova ferramenta desenvolvida pela 2iM, startup nascida em Curitiba em 2011, e implementada pela Unimed de São José do Rio Preto (SP) mede, de forma consistente e padronizada, a produção do corpo médico cooperado. A solução avalia o número de consultas, exames e internações realizadas e a real necessidade desses procedimentos justamente com os desfechos possíveis e a experiência do paciente. Em seis meses de utilização da ferramenta foi possível distribuir aos médicos com melhores índices,  R$ 3,3 milhões em bonificações, e obter uma redução de R$ 500 mil no custo gerado pelas  consultas. Isso foi possível porque deixaram de ser realizadas consultas e exames de alta complexidade que não eram necessários durante o tratamento.

“Há tempos realizamos estudos e utilizamos métricas para fazer com que custos desnecessários sejam evitados, ao mesmo tempo em que a qualidade do atendimento ao usuário aumenta. Com a ferramenta da 2iM essa análise se tornou mais visual e acessível e os médicos podem ver seu desempenho e compará-lo com outras especialidades. Hoje 75% dos nossos cooperados recebem a bonificação”, destaca o presidente da Unimed de São José do Rio Preto, José Luiz Crivellin. “Também começamos a apoiar outras áreas a partir dos dados gerados na plataforma – como da auditoria interna, responsável pela autorização e liberação de exames”, frisa Crivellin.

“A grande reforma da remuneração médica proposta está baseada num modelo híbrido, em que parte da remuneração é condicionada ao valor gerado ao paciente. São estes modelos de pagamento baseados em valor que reduzem o desperdício, , otimizando o tempo e melhorando o atendimento realizado aos pacientes”, explica o CEO da 2iM e presidente do Instituto Brasileiro de Valor em Saúde (IBRAVS), o médico César Abicalaffe. “Entendemos que a saúde baseada em valor significa melhorar os cuidados em saúde e aumentar a satisfação dos pacientes, ao mesmo tempo que se controla ou reduz os gastos em saúde”, afirma Abicalaffe.

Demanda reprimida

A elevação da procura por atendimento médico pode estar relacionada à demanda reprimida nos períodos mais críticos da pandemia da covid-19. Devido à orientação de procurar médicos apenas em caso de urgência e o medo de sair de casa fizeram com que alguns problemas de saúde se agravassem. Com isso, doenças foram descobertas em estágios mais avançados, exigindo tratamentos mais complexos e onerosos. “Por outro lado, a gravidade da covid-19 também trouxe novos problemas de saúde. Mas também não podemos desconsiderar a mudança de comportamento dos usuários dos planos de saúde, que se mostram mais atentos a sua saúde”, finaliza Abicalaffe.