O cuidado integrado e continuado em saúde – que o setor conhece internacionalmente pelo termo em inglês care continuum – é um conceito que abarca a atenção prestada a um indivíduo do período pré-natal até o final da vida. Para tanto, ele abrange de orientações e cuidados básicos até o acompanhamento da finitude com dignidade, passando por ações e oferta de recursos que vão da baixa até a mais alta complexidade.

Segundo Adriana G Wander, diretora executiva da Hospitalar ATS, existem diversas modalidades desse conceito de atuação, que se dão com maior ou menor ênfase dependendo do foco dado a ação em saúde. Em comum à maioria das ofertas, aparece a interligação e integração das ações durante toda a jornada de vida da pessoa.

Esses modelos de atenção continuada podem ser encontrados tanto no sistema público quanto no privado de saúde. No primeiro, o maior exemplo desse tipo de atendimento são os programas de saúde da família, nos quais um agente visita as residências, conhece o histórico social e de saúde das famílias e, a partir dessas informações, encaminha as ações necessárias para uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde. “Para os usuários de maior complexidade, esse modelo coordena ações de assistência domiciliar, como a oferta de oxigênio e a execução de curativos”, exemplifica Andrea Castelli, diretora executiva da ProCare.

Já no sistema privado, ou saúde suplementar, encontramos esse modelo nas medicinas de grupo. Hospitais que ampliaram sua oferta de atendimento, com foco em alta complexidade, e empresas que oferecem programas para os seus colaboradores. “Essas iniciativas têm algumas características em comum na sua forma de execução”, explica Andrea. “Elas fazem screenings periódicos em suas populações, de forma que tenham o perfil mapeado e possam direcionar os recursos disponíveis”.

Principais pontos positivos

Na análise das especialistas ouvidas pela ASAP, um cenário no qual uma pessoa tem sua saúde acompanhada com tal proximidade é o que mais se aproxima do ideal. “É uma situação onde a pessoa obtém todas as orientações e/ou ações de saúde indicadas para cada período e situação de sua vida. E isso de forma plena, integrada e objetiva”, comenta Adriana.

No bojo dos recursos oferecidos, o despertar para o autocuidado surge como ganho talvez intangível num primeiro momento, mas fundamental para um futuro mais sustentável ao setor. “A pessoa aprende que é dela mesma a responsabilidade pela sua saúde”, salienta a executiva da Hospitalar ATS. “Os resultados tenderão a ser melhores no que toca à qualidade de vida, à utilização adequada dos serviços de saúde e à integração com a família”.

Entre os principais pontos positivos do cuidado integrado e continuado em saúde, é possível citar também a segurança que o modelo traz. A equipe multiprofissional responsável pelo atendimento tem acesso prévio às informações de saúde e pode, à partir daí, oferecer uma assistência mais segura e acolhedora. “Os usuários se incomodam muito em terem que repetir a mesma história várias vezes, o que tende a não acontecer nesse modelo”, esclarece Andrea, da ProCare.

Para os modelos em que a equipe aciona proativamente o usuário (para ações preventivas e educativas), soma-se às vantagens a oportunidade de prevenir situações que ocorreriam por falta de informação. Ação que traz uma sensação de pertencimento e leva o usuário à maior fidelização às orientações médicas.

Melhores indicações

Embora seja um serviço que traz benefícios a todas as populações – dos usuários do atendimento público aos beneficiários de uma empresa privada –, é importante que públicos com maior fragilidade ou susceptibilidade – fazendo-se um recorte por idade, por exemplo – sejam vistos como prioridade nesse tipo de oferta.

Andrea reforça essa importância de analisar cuidadosamente o perfil epidemiológico da população atendida, complementando que quanto maior a complexidade clínica do usuário maior o benefício de uma assistência integrada. “Isso por que geralmente há a necessidade da atuação de múltiplos agentes de múltiplas especialidades. E sem ações coordenadas as chances de informações críticas não serem trocadas aumentam – e consequentemente o risco de eventos adversos”.

A executiva conclui informando que essas intercorrências inesperadas são a segunda maior causa de morte nos Estados Unidos, um dado que merece ser considerado por aqui também. “Esse é um ponto de grande atenção na assistência, e mais ainda quando se tratam de indivíduos mais frágeis”.