Ao longo da última década, as despesas com saúde em nível mundial subiram de 10 a 15% ao ano. O segmento de saúde suplementar enfrenta um momento delicado, com queda gradativa de usuários e aumento de custos. A despeito de cobrarmos do governo um maior conhecimento de sua população, por que não começar esse esforço por cada empresa? Transformar um modelo de saúde reativo em proativo, com mais agilidade e integração dos dados e mensuração de resultados está ao nosso alcance.

De acordo com o IBGE, até 2030 a população acima de 60 anos vai triplicar no Brasil e atingir o mesmo índice registrado hoje no Japão, mas com PIB per capita inferior e um número de geriatras dez vezes inferior. A estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) é de que o sistema de saúde comporte apenas nove leitos para idosos a cada mil habitantes, contra 55 do Canadá e do Reino Unido. Porém, o problema não está à nossa frente e no que faremos com esse público. O problema já chegou.

Os idosos do amanhã já figuram nas alarmantes estatísticas de doenças crônicas, com as quais convivem 40% dos brasileiros. A depressão, por exemplo, já se tornou a segunda doença mais impactante do país e deverá ser a primeira em 2020, conforme destacou a Organização Mundial da Saúde (OMS). São 11,5 milhões de pessoas diagnosticadas com o problema, das quais 199 mil receberam benefícios-saúde relacionados à enfermidade – deste total, 75 mil casos envolveram profissionais afastados do mercado de trabalho. Quem paga esta conta?

O segmento de saúde suplementar enfrenta um momento delicado, com queda gradativa de usuários e aumento de custos. E as empresas contratantes, responsáveis por absorver 31,5 milhões dos 47 milhões de beneficiários de planos de saúde no país, veem os gastos na área avançarem exponencialmente. O percentual de 12,7% de custos sobre a folha de pagamento só é superado pelos próprios salários, acompanhando uma tendência global e insustentável.

Ao longo da última década, as despesas com saúde em nível mundial subiram de 10 a 15% ao ano, segundo a Accenture. A American Medical Association aponta que o sistema de saúde norte-americano consome a cada 12 meses, em média, US$ 101 bilhões em tratamentos contra o diabetes e US$ 88 bilhões para o combate a doenças cardiovasculares e a dores nas costas e no pescoço. Desse montante, 60% destina-se a pessoas abaixo da linha dos 65 anos e, no caso das dores nas costas, 70% são direcionados a jovens e adultos. Uma clara mostra de que o envelhecimento populacional representa apenas um dos muitos icebergs que surgirão no caminho se não controlarmos a embarcação, repleta de maus hábitos e comportamentos nocivos.

A resolução desse cenário implica novos paradigmas. Gestores públicos, em meio a uma demanda popular por mais estrutura para atendimentos e internações, insistem em um modelo quase faraônico baseado na construção de mais hospitais e prontos-socorros. Acreditam atender a um apelo do cidadão, mas se mostram incapazes de conhecer o seu perfil e suas reais necessidades. O sucesso da administração na área de saúde é medido pelo número de leitos, sem considerar a condição clínica da população. Resultado: cada vez mais esses estabelecimentos são depósitos de problemas não resolvidos, lotados por pacientes com um simples mal-estar. E a demanda por mais obras nas próximas eleições ganhará força, revelando, mais do que um esforço em vão, uma política completamente equivocada.

A iniciativa privada, por sua vez, ainda adota medidas incipientes, mesmo sabedora da sua condição de principal financiadora da saúde no Brasil. Muitas das corporações perpetuam a divisão, pura e simples, entre doentes e saudáveis. Assumem custos elevadíssimos para arcar com os doentes, mas de maneira apenas ostensiva, sem colocar em prática programas profissionais de acompanhamento e monitoria. Já o cuidado com os saudáveis é tido como descartável, enquanto estes continuam a cultivar maus hábitos que os colocam no grupo de risco. Em pouco tempo, entrarão para o clube dos doentes sem que a empresa tenha feito rigorosamente nada em nome da prevenção desse quadro.

A despeito de cobrarmos do governo um maior conhecimento de sua população, por que não começar esse esforço por cada empresa? Temos um elefante na sala e precisamos nos livrar dele de qualquer maneira. Mas a cada momento nos deparamos com um crescente número de soluções a nosso dispor. A revolução digital permitirá que, até 2020, cerca de 25 bilhões de dispositivos estejam conectados e oferecerá recursos infindáveis para a implementação de soluções de Big Data. Assim, os pacientes serão senhores de sua saúde, de fato, promovendo o autogerenciamento das condições clínicas e melhorando o diagnóstico precoce de enfermidades.

Transformar um modelo de saúde reativo em proativo, com mais agilidade e integração dos dados, ações assertivas, mensuração de resultados e engajamento, está ao nosso alcance. É o chamado empoderamento, palavra tão em voga, mas ainda muito restrita à teoria. Parafraseando o escritor norte-americano H. Jackson Brown Jr., “se você quer mudar tudo, basta mudar a sua atitude”.