Com o agravamento da pandemia da Covid-19 no país, o sistema de saúde brasileiro deve se preparar para uma demanda inédita de atendimentos relacionados à doenças respiratórias.

Como os casos mais graves de infecção pelo novo coronavírus evoluem para quadros de insuficiência respiratória, os recursos hospitalares indicados para pacientes nessas condições tendem a ser cada vez mais escassos.

Considerando que estamos entrando nos meses mais frios do ano, quando tradicionalmente aumenta o número de casos de gripe e outros problemas respiratórios, temos um quadro bastante preocupante para os gestores de saúde.

Isso quer dizer que, daqui para frente, sua operadora precisará investir cada vez mais em programas de prevenção, monitoramento e tratamento de pacientes com histórico de enfermidades como bronquite, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).

Prevenção em primeiro lugar

As recomendações de um isolamento mais rígido para pessoas com problemas respiratórios são as mesmas para quem tem mais de 60 anos ou para outros pacientes crônicos (diabéticos e hipertensos).

Ou seja:

Essas pessoas não têm uma propensão maior de contrair o coronavírus, em comparação com alguém sem comorbidades. Mas o fato é que elas compõem a maior parte dos pacientes graves e dos óbitos causados até agora pela Covid-19.

Se a sua operadora de saúde já monitora os beneficiários com doenças respiratórias crônicas, é hora de dar uma atenção especial para este grupo.

Direcionar uma comunicação específica para eles, reforçando medidas preventivas e os riscos de agravamento da doença, é o mínimo que deve ser feito.

Reforçando o telemonitoramento

Essas ações devem ser acompanhadas de um telemonitoramento mais intenso, com contatos mais frequentes e protocolos específicos para detectar não apenas possíveis sintomas da Covid-19, mas também a situação da doença respiratória já instalada.

A ideia é evitar que esses pacientes tenham um agravamento do quadro respiratório durante o inverno, por exemplo, e necessitem de internação enquantos os leitos estiverem ocupados por pacientes infectados pelo coronavírus.

Outro aspecto que deve ser levado em consideração pelos agentes de telemonitoramento é que, para os portadores de doenças respiratórias crônicas, o fato de permanecer fechado dentro de casa pode ter consequências inesperadas.

Pacientes com asma podem relatar uma piora nos sintomas e até mesmo pensar que contraíram a Covid-19, quando o mais provável é que seu ambiente doméstico não seja adequado ou que estejam passando muito tempo no ar-condicionado, por exemplo.

Nessas horas, até mesmo orientações básicas sobre a higienização de ambientes se tornam importantes.

Do telemonitoramento à teleconsulta

Além do monitoramento telefônico dos pacientes com problemas respiratórios, as operadoras devem buscar formas remotas de manter o contato com os profissionais que já os acompanham dentro de programas de controle.

Por se tratarem de pacientes crônicos, eles devem ser constantemente monitorados por um especialista capaz de orientá-los sobre o uso de medicamentos como broncodilatadores e corticoides inalatórios, por exemplo.

Com a chegada do inverno, muitos deles também podem precisar consultar um médico por conta de algum sintoma específico, sem contudo haver necessidade de internação.

Como estamos em meio a uma pandemia, o ideal nesses casos é evitar ao máximo que o paciente saia de casa para uma consulta presencial.

Foi justamente pensando nisso que o Conselho Federal de Medicina passou a autorizar a teleconsulta enquanto durar o surto de Covid-19 no país.

Dessa forma, sua operadora deve mobilizar recursos para viabilizar o atendimento remoto, para que o paciente possa relatar ao seu médico (ou outro especialista) o que está sentindo e receber as devidas orientações.

Nesse momento, o atendimento presencial é indicado apenas nos casos que não apresentarem melhoras após a teleconsulta.

A importância da imunização

Paralelo aos cuidados para controlar o novo coronavírus, sua operadora também precisa se preocupar com a prevenção de outros patógenos que podem agravar a situação dos pacientes com doenças respiratórias crônicas.

É sabido que influenza, rinovírus e adenovírus (bastante comuns nos meses mais frios) podem piorar quadros de dificuldade respiratória.

Por isso, a vacinação contra a gripe e doenças pneumocócicas devem ser mantidas e incentivadas, principalmente para pacientes com asma ou DPOC.

Dependendo da condição de saúde do indivíduo, contrair uma gripe com um quadro de doença respiratória já instalado pode ser tão grave quanto o novo coronavírus.

Por isso é preciso pesar os riscos e admitir ao menos uma “escapada” da quarentena para ir tomar a vacina contra influenza, por exemplo, antes que o inverno chegue.

Mas o ideal seria sua operadora ter um programa de vacinação em domicílio, no qual profissionais treinados e devidamente protegidos fariam a aplicação na casa dos pacientes com doenças respiratórias crônicas.

A seleção desses pacientes deve ser feita de acordo com o perfil de saúde de cada uma e a disponibilidade de recursos da operadora.

O que esperar do pós-coronavírus?

Quem acompanha a evolução das pessoas que se curaram depois de apresentar sintomas da Covid-19 já sabe que a doença pode deixar sequelas que comprometem a capacidade respiratória dos pacientes a para o resto da vida.

Médicos em Hong Kong já detectaram os primeiros indícios de uma diminuição das funções pulmonares e “fôlego curto” em pacientes recuperados.

Após a cura, a função pulmonar de alguns deles caiu de 20% a 30% e o resultado de tomografias acusou um turvamento nos pulmões indicativo de fibrose.

Os resultados ainda são preliminares, mas já levantam um alerta para as operadoras de saúde.

Depois que passar o surto de Covid-19, tudo indica que será necessário continuar investindo para reforçar ainda mais os programas de saúde voltados a doenças respiratórias crônicas.