Quando falamos em tecnologia, esse conceito geralmente remete às mais inovadoras ferramentas e processos empregados para transformar o modo de se prestar serviços, desenvolver produtos e fazer negócios. E na Medicina, não é diferente. Entretanto, muitos ainda carregam consigo a errônea ideia de que a tecnologia compromete a proximidade do tratamento médico, quando, na realidade, ela é uma aliada, sobretudo no processo de desospitalização.

Pode parecer controverso o cenário em que um paciente se recupere de forma eficiente e, até mesmo, mais rápida estando em casa, sem toda a estrutura que um hospital oferece. Estudos e avanços na telemedicina mostram que esse cenário, além de ser possível, tem se tornado uma realidade no Brasil.

Com o uso da Internet das Coisas Médicas (IoMT) e Inteligência Artificial, o processo de desospitalização tem se difundido como uma opção que combina humanização e tecnologia ao tratamento, permitindo que os pacientes recebam os cuidados necessários na comodidade de suas casas, e tenham acompanhamento em tempo real, mesmo de maneira remota pela conexão 24h.

Se antes a desospitalização e a assistência médica domiciliar pareciam ser possibilidades apenas para população idosa, com a evolução tecnológica na Medicina, essas tem se tornado alternativas para trazer mais conforto, bem-estar e segurança ao tratamento de pacientes diversos e com variadas enfermidades, incluindo aqueles que necessitam de suporte respiratório por aparelhos 24 horas, 7 dias por semana.

Recentemente, estive à frente de um estudo com foco nessa parcela da população, da qual 75% necessitava de ventilação mecânica invasiva (pacientes traqueostomizados) e 25% utilizava algum tipo de interface oronasal. Com o uso do telemonitoramento domiciliar, foi possível identificar melhora clínica em 63% do total de pacientes, que apresentaram avanços positivos relacionados à ventilação mecânica, considerando frequência respiratória e modo ventilatório. Tudo isso, acompanhado da proximidade familiar e do ambiente acolhedor do próprio lar, que afeta positivamente a evolução do quadro clínico.

Esse tipo de estudo demonstra, na prática, como a tecnologia é uma ferramenta poderosa e aliada ao tratamento médico individualizado e especializado com base em dados, principalmente quando se trata de desospitalização. Além disso, todo esse processo faz com que a atuação domiciliar se torne um ambiente convidativo para novas empresas de home care com inovações diversas, ampliando a capacidade de oferecer serviços médicos.

De acordo com o CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), o número de empresas de assistência domiciliar cresceu 88% nos últimos 4 anos. Até o final de 2022, foram registradas 1.167 empresas, todas regulamentadas pela resolução n° 1.668/2003, do Conselho Federal de Medicina.

Dito isso, torna-se notável o potencial promissor da tecnologia atrelada ao home care, e como essa evolução alcança a Medicina de ponta a ponta: no processo de desospitalização com a otimização do giro de leitos, no tratamento domiciliar personalizado, na inteligência de dados agregada à tomada de decisão dos profissionais da saúde e no mercado, com abertura para novos projetos. Assim, temos evidências para afirmar que hoje a tecnologia se tornou indissociável das ciências médicas e que, independente dos avanços conquistados, o foco segue o mesmo: o paciente e o seu bem-estar no centro.