O CAR-T, método de terapia celular aplicado ao tratamento de cânceres do sangue com casos já documentados de remissão total de tumores, também pode ser útil para outras condições.

Cientistas investigam se a tecnologia é eficiente para tratamentos contra asma, lúpus, diabetes tipo 1 e infecções por fungo, entre outras que estão na mira de pesquisadores.

Os resultados, embora promissores, ainda são experimentais. Mesmo assim, indicam que “estamos apenas no começo para perceber o potencial completo dessas drogas vivas”, escreveram pesquisadores da Universidade de Pensilvânia, nos EUA.

Eles assinam um artigo publicado nesta quarta (26) na revista Nature que resume as principais investigações iniciais já feitas sobre o CAR-T.

O QUE É O CAR-T?

O método é baseado em utilizar os linfócitos T, células do sistema imune, para atacar especificamente o que causa a doença. Em resumo, esses linfócitos são retirados do paciente, passam por modificação genética para atacar as células associadas à doença e, por fim, são implantados no indivíduo.

Utilizado no Brasil para quando não existem outras alternativas, o CAR-T teve resultados positivos em cânceres sanguíneos, como linfoma e leucemia. Para os tumores sólidos, a tecnologia não demonstrou eficácia, mas o ponto também é objeto de investigação. Novos estudos procuram formas de superar essa barreira dos cânceres sólidos.

Uma delas é por injetar os linfócitos T alterados na região do tumor, explica o artigo publicado na Nature. Isso porque uma das dificuldades do CAR-T para os cânceres sólidos são as barreiras físicas que existem nas regiões desses tumores. Ao injetar as células diretamente nessa região, pode ser que pelo menos essa dificuldade seja superada.

PARA QUAIS OUTRAS DOENÇAS O CAR-T PODE SER ÚTIL?

O que existe até então são poucas evidências do uso da metodologia para outras doenças além dos cânceres sanguíneos. Um desses campos de estudo ainda experimentais é das doenças autoimunes.

Um estudo de 2022 investigou o efeito do CAR-T em cinco pacientes com lúpus. Em todos os cinco, houve replicação das células CAR-T, ao mesmo tempo em que ocorreu o controle das células B -elas são associadas às inflamações observadas nas pessoas com a condição. Os cinco pacientes deixaram de tomar os medicamentos e foram considerados em remissão.

Pesquisa feita com ratos também observou um efeito positivo do CAR-T no controle e na prevenção do lúpus. Mas, por enquanto, as informações ainda são escassas. “Estudos maiores e acompanhamento de longo prazo serão necessários para elucidar se a resolução da doença é temporária ou durável”, escrevem os autores do artigo.

Outra fronteira de tratamento do CAR-T no campo de doenças autoimunes é a asma. Um artigo observou, em dois grupos separados de animais, que a tecnologia de células modificadas serviu para proteger contra ataques asmáticos. A prevenção, ao que parece, foi duradoura nos bichos.

Já para o diabetes tipo 1, que também entra no rol de complicações autoimunes, há algumas evidências indicando um possível efeito positivo do CAR-T. Em estudos com ratos, foi visto que as células modificadas para esse fim teve associação com a prevenção da doença nos animais pré-diabéticos. Com o tempo, no entanto, o efeito positivo desapareceu -um indicativo de que talvez não haja durabilidade dos efeitos.

Além das doenças autoimunes, investigações já existem sobre o CAR-T no caso de infecções. Uma delas é para o HIV, que esteve desde o início como um enfoque da tecnologia, mas inicialmente sem resultados positivos. No entanto, pacientes já apresentaram remissão do HIV por conta do transplante de medula óssea durante tratamento de tumores sanguíneos, como leucemia ou linfomas.

A ideia é que o mesmo pode ocorrer com a implantação de linfócitos T modificados -ou seja, o CAR-T. Para isso, estudos ainda preliminares buscam avanços nessa tecnologia a fim de chegar ao mesmo efeito do transplante de medula óssea para o HIV.

Doenças causadas por fungos também estão entre as possivelmente tratadas com CAR-T no futuro. Estudos in vitro -o que significa fora de organismos vivos- com material de animais observaram que, ao serem modificadas para reconhecer substâncias da parede celular de fungos, os linfócitos T tiveram propriedades atuantes contra esses microorganismos.

Um desses casos foi contra o Aspergillus fumigatus, fungo que causa uma complicação no pulmão mais comum em pessoas imunossuprimidas chamada aspergilose. Foi aplicada a ideia de programar os linfócitos T para atacar o fungo, o que realmente ocorreu.

Agora, a mesma lógica já está sendo aplicada de forma muito inicial para doenças causadas por outros agentes infecciosos. Hepatites B e C, além da tuberculose, são alguns exemplos.