Desde que entrei para a medicina, há mais de 35 anos, vi muita coisa evoluir com o avanço da tecnologia. Por exemplo, o desenvolvimento de tratamentos que impactaram profundamente a vida das pessoas, como os remédios que têm permitido aos pacientes HIV positivos continuar vivendo de forma saudável.

Também foi o caso de medicações que proporcionam qualidade de vida para pessoas portadoras de transtornos mentais, o sequenciamento do genoma humano e a clonagem terapêutica.

Tudo com estudos indexados online e a distância de um clique, muito diferente do que havia nos meus tempos de residência, quando era preciso recorrer a colegas, professores ou livros para obtermos o que hoje encontramos em minutos na internet.

Os avanços tecnológicos também viabilizam exames e procedimentos em bebês ainda no útero materno, como o NIPT (Non Invasive Prenatal Testing, ou “Exame de Pré-Natal Não Invasivo”, numa tradução livre), e a realização de cirurgias remotamente.

O acesso à informação também transformou a medicina e o modo como estamos atendendo aos pacientes. Além de tratar e prevenir doenças físicas e mentais, possibilita a desburocratização de processos operacionais, como os prontuários eletrônicos que abrem a toda a equipe médica o histórico do paciente, e a conveniência da teleconsulta que permite, de maneira segura, a anamnese sem que o paciente tenha de sair de casa.

Outra grande revolução da saúde brasileira nas últimas três décadas não está necessariamente ligada à tecnologia, mas representou um avanço social expressivo no país: a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), instituição pública de acesso universal a todos os brasileiros. Embora enfrente desafios estruturais, é responsável, junto com o setor privado e a saúde suplementar, pela incorporação de novas tecnologias a partir de critérios que visam assegurar a eficácia dos tratamentos médicos, a segurança do paciente e a sustentabilidade financeira da Saúde, que hoje representa mais de 9% do PIB brasileiro, somando investimentos público e privado.

Mas tanto na saúde privada quanto pública, há algo que nenhum avanço tecnológico pode substituir: a questão humana. É preceito fundamental colocar as diversas ferramentas tecnológicas para garantir a atenção centrada do paciente, com acompanhamentos frequentes e, especialmente, o uso inteligente dos dados disponíveis.

A boa medicina é aquela que, embora disponha de recursos tecnológicos, entrega as informações e o diagnóstico realmente necessários ao paciente, com a consideração que todas as pessoas procuram em momentos delicados. O médico não deve, jamais, se limitar a fazer o que um aplicativo alimentado por inteligência artificial poderia fazer. É sua contribuição ir além, tratando cada paciente da forma única, ouvindo-o atentamente e, efetivamente, auxiliando-o na condução de sua saúde.

O primeiro remédio para quem tem depressão é a atenção, ser ouvido sem julgamentos e saber que há alguém que se importa com seu estado clínico. Já os bebês nascidos prematuramente apresentam melhora com o contato tátil dos pais, assim como pessoas hospitalizadas se sentem mais confortáveis e têm probabilidade de restabelecimento mais rápido quando acolhidas. E isso nenhuma máquina poderá fazer. Da mesma forma, nada poderá substituir o médico que fez da sua vocação um compromisso inegociável.

Por Helton Freitas – Presidente da Seguros Unimed e Faculdade Unimed.