O perfil dos beneficiários de planos de saúde no Brasil passará por profundas transformações nos próximos anos. De acordo com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), em 2050, 30% dos clientes estarão na 3ª idade e o perfil epidemiológico desses pacientes também será diferente. Riscos nutricionais e doenças transmissíveis, apesar de importantes, perderão força no ambiente em que doenças crônicas e mortalidade precoce passarão a ser o foco principal da luta dos sistemas de saúde. Uma das grandes armas nesta guerra será a adoção de modelos de atenção onde ações de promoção da saúde e prevenção de doenças passem a ser mais praticadas.

Neste cenário, o papel do médico será determinante à medida que passe a olhar para o paciente de forma global, estabelecendo uma relação eficaz e satisfatória para ambas as partes. A meta será identificar, em todas as idades, fatores de risco que possam ser controlados cada vez mais cedo. Para o especialista em Medicina de Família e Comunidade, Dr. Heitor Tognoli, os chamados modelos de atenção primária são eficazes pois se sustentam por quatro pilares. O primeiro deles é o Acesso: oferecer facilidade de acesso aos usuários para que a atenção primária seja a porta de entrada no sistema de saúde. Em seguida, a Longitudinalidade: ter equipe de atenção à saúde que sirva de vínculo e de responsabilidade para um grupo de pessoas. A seguir vem o conceito de Integralidade: ter abordagem nas necessidades do paciente que vão além da questão biológica, como, por exemplo, as questões de família, as situações sociais, contexto sociocultural, econômico e a resolução dos seus problemas de saúde de forma ampliada. Por fim, a Coordenação do Cuidado: trabalho em equipe responsável pelo cuidado do paciente não só quando ele está no limite da atenção primária, mas em qualquer ponto da rede que ele esteja.

Habilidades de comunicação também podem ser úteis para que os sistemas passem, de fato, a enxergar a necessidade do outro. Heitor Tognoli, que escreve para o blog especializado em orientação de carreira médica, www.heitortognoli.com.br, defende a comunicação como ferramenta importante para a relação médico-paciente: “Se o paciente chega com dor de cabeça e eu faço uma pergunta simples como: o que você acha que pode ser essa dor de cabeça? O paciente vai poder falar não apenas da doença, mas de suas expectativas e da experiência de estar doente e pode falar coisas como: ‘doutor eu vim aqui porque minha vizinha teve um aneurisma e eu acho que posso ter um aneurisma’. Por mais que eu não peça um exame de imagem, eu vou atender uma expectativa dele que é o que está causando a sua preocupação. Eu vou mostrar a ele que talvez ele não precise de uma tomografia por causa da característica da dor. Mas eu sei qual é a sua demanda”.

Tecnologia em favor da saúde
A tecnologia também pode ser um caminho para que as operadoras conheçam melhor seus pacientes e evitem complicações decorrentes de doenças crônicas. O dinamarquês Peter Kronstrom, do Instituto de Estudos Futuros de Copenhagen, dedica atenção à influência que a tecnologia exercerá na saúde no futuro. “Você pode imaginar um aplicativo instalado no seu carro para simplesmente lhe avisar que sua pressão está muito alta? Agora, imagine só essa informação sendo repassada diretamente à sua operadora de saúde”. O pesquisador afirma que a tecnologia será cada vez mais uma aliada das pessoas no controle da saúde, privilegiando uma tendência mundial de inversão de valores. “A prevenção vem muito antes que o tratamento”, afirma Kronstrom.

Unimed Uberlândia
A Unimed Uberlândia passou a adotar ações de atenção integral a grupos de beneficiários há dois anos quando instituiu o atendimento ambulatorial em sua rede de recursos próprios. O CIAS – Centro Integrado de Atenção à Saúde faz acompanhamento de pacientes com o objetivo de evitar que tenham complicações no futuro.

Com a iniciativa, a proposta da Unimed, além de atender exigências da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), evoluirá gradativamente do atual modelo de atenção baseado em sistema hierárquico, por uma rede horizontal de serviços integrados. “O desafio principal é superar o padrão centrado na doença e baseado na demanda espontânea”, explica a gestora de Recursos Próprios da Unimed Uberlândia, Kellem Ramos de Paula. “Hoje, a cultura do nosso cliente ainda é a de apresentar queixas pontuais e não a de olhar a saúde como um todo. E a metodologia de atenção integral é justamente ter um olhar mais amplo, avaliando todo o contexto social, psicológico e familiar que envolve o paciente”, diz a gestora.

Além de ser mais eficiente do ponto de vista preventivo, torna o serviço menos oneroso para o cliente e para as empresas e, consequentemente, para a operadora. “Por ser uma metodologia nova e ainda em fase de consolidação, a Unimed tem investido na sensibilização de cooperados e clientes com relação a esse atendimento”, conclui.

As ações com foco na promoção de saúde, promovidas pelo espaço Viver Bem da cooperativa, incluem também o Programa de Gerenciamento de Casos Especiais; Programa de Acompanhamento de Crônicos; Programa Preparatório para Cirurgia Bariátrica e o Programa Gestante Unibaby.

Tendência global

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) apresentam um resumo dos atributos necessários para o manejo ideal das Doenças Crônicas Não Transmissíveis DCNTs na publicação “Cuidados inovadores para condições crônicas: Organização e prestação de atenção de alta qualidade às doenças crônicas não transmissíveis nas Américas”.

A atenção, segundo o documento, deve ser integrada em termos de tempo, espaço e condições. É preciso que os membros da equipe de saúde colaborem entre si e com os pacientes e suas famílias para desenvolver metas de tratamento, planos e estratégias de implementação centradas nas necessidades, nos valores e nas preferências do paciente. Conjuntamente, a equipe de saúde tem de ser capaz de prestar todos os serviços de saúde, desde a prevenção clínica e a reabilitação até os cuidados terminais. A atenção proativa e planejada e o apoio ao automanejo são outras características desse tipo de atenção.