Planos populares, reajuste das mensalidades e nova lei para regular o setor. Esses são alguns dos temas que estão em pauta quando falamos em saúde suplementar e que têm deixado os consumidores inseguros. Para conhecer a ótica das empresas sobre este cenário e os principais problemas de quem é usuário de planos de saúde, a editora da Defesa do Consumidor, Luciana Casemiro, recebeu o diretor da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Pedro Ramos.

No que se refere a reajustes, Ramos admite que se chegou a uma situação quase que insustentável para os dois lados:

– O reajuste excessivo é perverso para o consumidor e nós entendemos isso. Isso aconteceu porque os planos tiveram 15 anos de represamento. Há 15 anos, que uma agência – não a atual gestão – aparelhada por um governo populista, segurou os reajustes dos planos individuais.

Ele explicou que nos planos coletivos, o sinistro é medido individualmente, ao contrário dos individuais, que é pela carteira global.

– Quando você vende um plano para uma grande organização, para uma grande empresa brasileira, é uma relação de igual para igual. Vai ser medido o sinistro daquela carteira especificamente, não se tem a oportunidade de fazer uma revisão global. Isso é o que precisamos entender. No plano individual, quando eu meço o sinistro, é pela carteira global, No plano coletivo, eu não tenho essa globalização do sinistro e do reajuste. É específico daquela empresa, é inserido de acordo com a população daquela companhia.

Ele deu como exemplo o caso do ABC Paulista, onde grandes empresas levaram os médicos para dentro de suas instalações, o que evita o absenteísmo, que a pessoa não falte ao trabalho para ir ao médico:

– São realidades diferentes e as pessoas criam algumas ficções, que não podem ser levadas em conta.

Ramos explicou também que o plano de microempresa não é atrelado pela inflação oficial do governo, mas terá um índice próprio, que será medido anualmente dentro da operadora.

– Para não ser tão injusto, não vamos fazer a mesma medição que faríamos numa grande empresa numa pequena empresa. As pequenas empresas são aglutinadas de acordo com o seu setor, de acordo com sua cartegoria, em grandes blocos dentro da operadora. Você pega mil empresas, para fazer uma carteira de 50 mil, e essas têm a mesma gestão. Ele não terá um reajuste só da sinistralidade de uma pessoa, mas entra numa carteira global de pequenos contratos, diferente da grande empresa.

O diretor da Abrange ressaltou que, quando se aplica um reajuste muito grande em um plano coletivo, a empresa que o contratou vai embora, e não há nada pior do que perder cliente.

– É diferente do plano individual, onde consumidor e empresa estão casados para sempre. O consumidor só vai embora se ele quiser. A operadora não tem o direito de tirar o consumidor – e isto está na lei, a não ser naqueles casos expressos de fraude, não pagamento em 60 dias etc.

No entanto, pontuou que os planos individuais não são mais oferecidos porque todas as empresas que insistiram em vendê-los acabaram quebrando. Sem citar exemplo, lembrou que várias operadoras no Rio e São Paulo não suportaram porque tinham uma carteira de planos individuais muito grande e foram submetidas a um reajuste inadequado nos últimos 15 anos inadequado:

– As pessoas têm que estar cientes de que nunca teremos uma inflação médica igual à oficial. É isso em qualquer país. É incorreto o governo impor aos planos de saúde durante mais de uma década um índice igual ou até menor que a inflação oficial. Os planos não aguentaram.

Ao responder um leitor sobre quando o plano de saúde individual vai voltar, Ramos foi categórico ao afirmar que isso só vai acontecer a partir do momento que o governo e agência reguladora disserem que “a partir do ano que vem, o índice da inflação médica será medido por esta instituição de respeitabilidade no Brasil”.

– Só a partir deste momento, você pode ter certeza que volta o plano individual para o mercado. E volta mais acessível – conclui.