Apresentamos dois exemplos práticos de como a adoção de indicadores de qualidade e a transparência deles podem ajudar nesse processo. Os dois casos foram relatados por Matt Austin, pesquisador e professor da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e supervisor científico de Pesquisa Hospitalar do The Leapfrog Group (EUA) durante sua apresentação no seminário internacional “Indicadores de qualidade e segurança do paciente na prestação de serviços na saúde”.

No primeiro caso, o acompanhamento de partos eletivos entre a 37° e a 39° semanas de gravidez para mulheres que nunca tiveram filhos e carregam apenas uma criança na posição cefálica (com a cabeça para baixo) – ou seja, partos de baixo risco – indicou que apesar de a indicação nacional ser para que esses partos (cesarianos ou induzidos) aconteçam no máximo em 23,9% dos casos, 60% dos hospitais-maternidade nos Estados Unidos estavam realizando-os com mais frequência do que o indicado.

Além disso, apesar de a gestação ser considerada completa a partir da 37° semana, de acordo com o padrão daquele país, os bebês nascidos de partos induzidos ou cesarianas nesse período apresentaram maior incidência de problemas respiratórios e problemas de desenvolvimento cerebral. O que indica que as duas últimas semanas são muito importantes em termos de desenvolvimento dos sistemas respiratório e nervoso.

No começo da pesquisa, cerca de 17% dos bebês nos Estados Unidos nasciam nessas condições. Frente aos resultados, foi feita uma mobilização nacional para reduzir esse número para 5% dos recém-nascidos. O programa foi um sucesso e, de acordo com os dados do The Leapfrog Group, apenas 2,8% dos bebês, hoje, nascem de partos eletivos antes da 39° semana.

O segundo caso, também emblemático, aconteceu no estado americano do Maine, e mostra a força que os pacientes têm para exigir que indicadores de qualidades sejam adotados pelos hospitais e seus resultados sejam publicados de maneira transparente.

No Maine, a maior parte dos planos de saúde é contratada pelo estado para os seus servidores. Para estimular os servidores estaduais a buscar prestadores de serviços que apresentavam alto desempenho de acordo com a Pesquisa Leapfrog de Qualidade, os servidores não teriam que pagar a franquia quando fossem nesses hospitais. Por outro lado, ao se consultar em um hospital que não foi bem avaliado, os servidores teriam que pagar a franquia de US$ 250.

Muitos dos servidores ficaram chateados, de acordo com o relato de Austin, e começaram a cobrar os hospitais a adoção de indicadores e a participação na pesquisa. Hoje, 100% dos hospitais daquele estado participam da pesquisa, com a apresentação de melhoras expressivas de qualidade e seis deles figuram entre os melhores dos Estados Unidos.