Autoridades de saúde dos Estados Unidos afirmaram ter sido informadas que a AstraZeneca pode ter incluído informações desatualizadas nos resultados do ensaio clínico publicado ontem (22) sobre a eficácia da vacina contra a covid-19. O imunizante foi desenvolvido pela farmacêutica em parceria com a Universidade de Oxford e está sendo aplicado no Brasil. As informações são da agência de notícias Dow Jones.

A empresa divulgou ontem dados provisórios de testes em grande escala nos EUA. A vacina foi 79% eficaz na prevenção de casos sintomáticos da covid-19, segundo a AstraZeneca.

Um dia depois, o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid) publicou um comunicado em que diz que os resultados divulgados pela farmacêutica podem ter “fornecido uma visão incompleta dos dados de eficácia” da vacina contra a covid-19.
De acordo com a Dow Jones, os resultados foram vistos como um voto de confiança no imunizante, que tem sido questionado pela incerteza em torno de sua eficácia e por problemas de produção em larga escala. Mais recentemente, vários países europeus suspenderam o uso da vacina por causa de relatos de formação de coágulos sanguíneos em pessoas vacinadas, mas depois voltaram a autorizar o uso.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Europeia de Medicamentos revisaram os casos isolados relatados pelos países europeus e recomendaram que o uso da vacina seja mantido, avaliando que os riscos de utilizá-la superam os eventuais riscos.

“A disputa entre órgãos reguladores de vários países e a Astrazeneca, a respeito de seus dados e aprovação da vacina nesses locais, pode atrasar um pouco o cronograma de vacinação de vários países e, consequentemente, atrasar a retomada da atividade”, alerta Gustavo Akamine, da Constância Investimentos.

FDA analisará dados de forma independente, diz Fauci

A Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, revisará de forma independente os dados sobre a eficácia da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford.

A informação sobre a revisão foi revelada nesta terça-feira por Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid) e um dos principais conselheiros do presidente americano, Joe Biden, no combate à pandemia.

Em entrevista à rede ABC News, Fauci comentou a nota divulgada mais cedo pelo Niaid. Fauci afirmou que o conselho de monitoramento ficou preocupado com a forma como a farmacêutica apresentou os dados sobre a eficácia da vacina em um comunicado enviado à imprensa.

“Quando o comitê de monitoramento viu o comunicado à imprensa eles ficaram preocupados e escreveram uma nota dura à empresa, com cópia para mim, dizendo que, na verdade, que os dados que estavam de alguma forma desatualizados e podiam ser um pouco enganosos”, disse o diretor do Niaid.

Questionado sobre como o comunicado do Niaid pode afetar a confiança sobre a vacina da AstraZeneca, Fauci afirmou que o imunizante é “provavelmente muito bom” e chamou a inclusão dos dados desatualizados de “erro não forçado”.

“Temos que fazer que as pessoas entenderem que existem salvaguardas em vigor. O conselho de monitoramento de dados ter notado essa discrepância é um exemplo disso”, disse Fauci. “No fim, quem vai decidir tudo isso é a FDA, que vai revisar de forma independente todos os dados e não confiar na interpretação de ninguém, incluindo a empresa.”