Com a proximidade do Dia Nacional da Mamografia, comemorado amanhã,  5 de fevereiro, os dados relativos ao principal exame para detecção precoce do câncer de mama não são muito animadores. Ao longo de 2020, ano assolado pela pandemia de COVID-19, o número de mamografias realizadas no país sofreu queda considerável tanto no sistema privado quanto no público, o que desperta um alerta sobre as consequências drásticas do diagnóstico tardio.

Somente nas empresas que integram a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) – que em 2019 representaram 56,4% do total de exames realizados na saúde suplementar – entre março e novembro de 2020 houve diminuição de 53,1% na quantidade de mamografias quando comparado com o mesmo período do ano anterior.

“Com a suspensão dos procedimentos eletivos diversas unidades de atendimento foram fechadas. Além disso, com o receio da contaminação, muitas pessoas deixaram de realizar seus exames periódicos e se afastaram da assistência como um todo ao longo de 2020. As consequências podem ser graves. Em termos absolutos, a redução no número de mamografias chega a 1,5 milhão de exames”, comenta Wilson Shcolnik, presidente do Conselho de Administração da Abramed.

No Sistema Único de Saúde (SUS), o cenário também é preocupante. Os números compilados pelo Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico mostram que, entre março e julho de 2020, foi observada uma queda de 63,4% no total de mamografias bilaterais para rastreamento realizadas no setor público ante igual período de 2019.

No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda que toda mulher com idade entre 50 e 69 anos faça uma mamografia a cada dois anos como forma de prevenção. Na saúde suplementar, antes da crise de COVID-19, o número de exames para essa faixa etária mantinha-se estável desde 2015, com cerca de 2,3 milhões de mamografias realizadas anualmente para rastreio de câncer de mama nessa população. “A perspectiva é que esse número também tenha caído entre 50% e 60% no setor privado ao longo de 2020”, diz o executivo. Esses dados tornam-se ainda mais preocupantes se considerada a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) de que, no ano passado, foram mais de 66 mil casos da doença no país.

O diagnóstico tardio traz prejuízos para os pacientes e para os sistemas de saúde. Segundo o INCA, 95% dos casos de câncer de mama no país têm chance de cura quando detectados precocemente. Porém, antes mesmo da pandemia, não tínhamos uma detecção tão rápida assim. A edição de 2019 do Painel Abramed já enfatizava que 53,9% das pacientes eram diagnosticadas em estadiamento avançado, ou seja, nos estágios 3 e 4 da doença. Com o represamento das mamografias, essa estatística deve tornar-se ainda mais preocupante.

Paralelamente, o atraso na detecção das lesões impacta a sustentabilidade da prestação de serviços em saúde. A mais recente edição do Painel Abramed consolida, em números, essa consequência. Segundo o relatório de 2020, os custos diretos do tratamento do câncer de mama se elevam concomitantemente ao estadiamento da doença. Enquanto o tratamento iniciado no primeiro estágio custa cerca de R$ 12,9 mil, quando iniciado no segundo estágio o custo sobe para R$ 38,9 mil e, no terceiro estágio, chega a R$ 62,5 mil.

Todos esses dados se somam à mais um cenário que complica o acesso das brasileiras ao diagnóstico precoce dessa doença que mata 17,5 mil mulheres ao ano no país. Entre 2010 e 2019 aumentamos o número de mamógrafos em território nacional, passando de 4.214 para 5.847. Esse número atende ao parâmetro estabelecido pelo próprio Ministério da Saúde de que, para suprir a demanda populacional, é necessário contar com um mamógrafo para cada 240 mil habitantes.

Porém, ainda assim, 77,8% dos municípios não têm nenhum equipamento para realização desses exames. Seguimos em um cenário de desigualdade da oferta de mamografia já alertado pelo Painel Abramed de 2019 que enfatizava que quase metade dos equipamentos estão concentrados na região sudeste e a região norte tem apenas 6% dos mamógrafos em uso. “Quando temos uma discrepância na distribuição de serviços de saúde, nos deparamos com um vazio assistencial que precisa ser observado e vencido. Para isso, precisamos investir na gestão eficiente de recursos tanto no setor público quanto no privado, evitando desperdícios e ampliando as PPPs a fim de prover o atendimento necessário à população. Além disso, as economias de escala são essenciais para o desenvolvimento de uma rede assistencial economicamente sustentável e precisamos pensar na criação de incentivos regulatórios para viabilizar o desenvolvimento dessas redes”, finaliza Shcolnik.