Quando falamos sobre o controle dos custos assistenciais das operadoras de saúde diante da pandemia de Covid-19, a primeira preocupação dos gestores é com a elevação das despesas com internações.

Essa reação é mais do que justificada, principalmente quando sabemos que a taxa mensal de ocupação de leitos por pacientes infectados com o novo coronavírus subiu de 9% em fevereiro para 47% em abril.

Deste percentual, o que mais preocupa as operadoras são as internações em unidades de tratamento intensivo.

Uma internação por Covid-19 em UTI custa ao sistema algo em torno de R$ 4.035 por dia, enquanto uma hospitalização pela mesma doença, sem a necessidade de cuidados intensivos, tem um custo diário médio de R$ 1.705.

A diferença fica ainda maior quando considera o tempo médio de internação em cada caso.

O paciente de UTI fica em média 11,5 dias internado, o que representa um custo total de R$ 45.558 no período. As internações sem UTI, por sua vez, duram em média 5,3 dias, com um custo total de R$ 8.972.

Essas informações constam no boletim Covid-19, divulgado em maio pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e são resultado do monitoramento dos dados de atendimento assistencial em 45 operadoras de planos de saúde que dispõem de rede própria hospitalar.

Apesar dos números serem alarmantes por si só, eles representam um custo que terá que ser arcado pelo sistema de saúde suplementar e não pode mais ser evitado.

Portanto, se você deseja atuar para reduzir o impacto da Covid-19 nos custos da sua operadora, é fundamental investir na manutenção da saúde dos seus pacientes crônicos, pois são eles que mais correm riscos caso sejam infectados com o novo coronavírus.

A real dimensão do custo com crônicos

Mesmo antes da pandemia, o custo da assistência a pacientes crônicos sempre teve uma importância crucial na sustentabilidade financeira dos sistemas de saúde, tanto na rede pública ou na suplementar.

Para ter uma dimensão dessa importância, convém citar o estudo publicado no Pan American Journal of Public Health, que estimou os custos atribuíveis a hipertensão arterial, diabetes e obesidade no Sistema Único de Saúde brasileiro em 2018.

Segundo o estudo, os custos totais de hipertensão, diabetes e obesidade no SUS alcançaram R$ 3,45 bilhões em 2018. Desse total, 59% foi gasto com tratamento da hipertensão, 30% com diabetes e 11% com obesidade.

Considerando a obesidade como um dos fatores de risco para hipertensão e diabetes, os custos atribuíveis a essa condição chegaram a R$ 1,42 bilhão (41% do total).

Diante desses números, fica claro por que os programas de prevenção e promoção da saúde destinados a esses públicos em especial são tão necessários.

Agora, imagine como eles se tornarão ainda mais importantes depois de toda a carga de risco que a Covid-19 trouxe para os pacientes crônicos.

Maioria dos internados têm comorbidades crônicas

A prevalência de pacientes crônicos entre as pessoas hospitalizadas por Covid-19 vem chamando a atenção de profissionais de saúde em todo o mundo.

Um estudo publicado no Journal of American Medical Association, acompanhou milhares de pacientes internados com coronavírus em Nova York e descobriu que quase todos tinham ao menos uma doença crônica.

E o mais impressionante:

Em 88% dos casos o paciente apresentava duas ou mais!

Nesta reportagem do jornal The New York Times, a própria coordenadora do estudo se disse surpresa com um número tão elevado de pacientes com comorbidades crônicas entre os internados.

Monitoramento e prevenção contra o aumento de custos

Como gestor de uma operadora de saúde, pense em quantos leitos estariam disponíveis se a sua empresa tivesse investido mais em programas de telemonitoramento de pacientes crônicos e em medicina preventiva.

Com um foco maior no gerenciamento desses pacientes, grande parte deles poderiam estar hoje com um quadro de saúde muito melhor para enfrentar o coronavírus.

Com a doença crônica sendo acompanhada e controlada, o estado geral de saúde de boa parte desses pacientes permitiria que eles pudessem tratar a Covid-19 em casa sem necessitar internação.

Mesmo assim, é importante lembrar que todo paciente crônico (mesmo monitorado) continua sendo de alto risco para a Covid-19.

Mas com um acompanhamento remoto feito por profissionais de saúde as chances de agravamento diminuem e muitas internações não evoluem para a UTI, já que o paciente é orientado a procurar o hospital no momento certo, antes que seu quadro piore.

Reforçando programas de promoção da saúde

Os dados apresentados neste artigo apontam para a necessidade de investir cada vez mais em programas de prevenção e promoção da saúde tendo como foco os pacientes crônicos.

Por um lado, o cuidado e o acompanhamento desses pacientes tem se mostrado fundamental para mitigar os riscos com o novo coronavírus e reduzir os custos com novas internações, sabendo que ainda não existe vacina ou tratamento 100% eficaz para a doença.

Por outro lado, as sequelas ainda pouco conhecidas da Covid-19 devem aumentar a fragilidade na saúde dos pacientes que se recuperarem da doença, especialmente daqueles que já tinham problemas respiratórios ou cardíacos.

Ou seja:

Tanto as análises econômicas quanto as evidências epidemiológicas deixam clara a necessidade de implementar ações e programas capazes de fortalecer, por exemplo, a educação alimentar e a promoção de hábitos saudáveis.

Lembre-se, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ao menos 80% dos casos de diabetes e doenças cardiovasculares podem ser prevenidos com a adoção de uma dieta saudável e atividade física regular.