Estudo coordenado pelo pesquisador Thiago Moreno, do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), mostra que uma primeira exposição à covid-19 em casos brandos ou assintomáticos pode não produzir resposta imunológica e que a pessoa pode se reinfectar, inclusive, com a mesma variante. O estudo indica ainda que a segunda infecção pode provocar sintomas mais fortes do que a primeira. O resultado da pesquisa será publicado em maio na revista “Emerging Infectious Desease” (EID), dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC/EUA).

A pesquisa envolve também pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa (Idor) e da empresa chinesa MGI Tech Co.

Os dados mostram que para a parcela da população que tem a doença na forma branda, em que não é necessária a hospitalização, não significa que ela fique imune ou que uma reinfecção evolua de forma benigna. O estudo indica ainda que a reinfecção pode ser mais frequente do que se supõe.

O caso de ser infectado pela mesma variante acontece porque o paciente não teria criado uma memória imunológica. No caso de uma outra cepa, ela ocorreria por “escapar” da vigilância, não seria reconhecida pela memória gerada anteriormente por ser um pouco diferente.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores acompanharam semanalmente um grupo de 30 pessoas de março de 2020, no início da pandemia, até o fim do ano. Destas, quatro contraíram covid-19, sendo que algumas foram reinfectadas pela mesma variante. Os pesquisadores, então, sequenciaram o genoma do vírus nas duas infecções para poder compará-los.

“O método de sequenciamento genético desenvolvido pela MGI permitiu detectar o vírus mesmo em amostras com baixa carga viral. Hoje, Bio-Manguinhos [Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fiocruz] tem algumas dessas máquinas”, diz Moreno, em nota divulgada pela Fiocruz.

Nos quatro casos, a primeira infecção se deu com sintomas brandos. Na segunda, os sintomas foram mais frequentes e mais fortes, mas não necessitaram de hospitalização.

“Essas pessoas só tiveram de fato a imunidade detectável depois da segunda infecção. Isso leva a crer que para uma parte da população que teve a doença de forma branda não basta uma exposição ao vírus, e sim mais de uma, para ter um grau de imunidade”, conta Moreno. “Isso permite que uma parcela da população que já foi exposta sustente uma nova epidemia.”

Terceira infecção

Moreno não acha impossível que uma terceira infecção possa ocorrer. “A gente não sabe quanto tempo dura a imunidade pós-covid. Uma pessoa poderia ficar vulnerável a uma nova reinfecção ou mesmo a contrair uma variante diferente”, explica.

A Fiocruz ressalta que o novo estudo pode dar margem a mais pesquisas, como por exemplo investigar se uma pessoa pode ter predisposição a contrair o Sars-CoV-2. “Mas, para isso, seria necessário um grande estudo, com uma grande parte da população, a fim de investigar uma base genética para essa predisposição entre as pessoas que não geraram uma resposta ao vírus”, diz Moreno.