O registro de problemas relacionados à saúde mental vem crescendo entre os brasileiros durante a pandemia de Covid-19.

De acordo com um estudo da Universidade do Estado do Rio (Uerj) publicado online pela revista inglesa The Lancet, os casos de estresse e ansiedade mais do que dobraram no Brasil , enquanto os de depressão aumentaram em 90%.

A pesquisa foi realizada entre os dias 20 de março e 20 de abril por meio de um questionário online respondido por 1.460 pessoas.

Na primeira etapa da coleta de dados (de 20 a 25 de março), o percentual de entrevistados que relataram sintomas de estresse agudo foi de 6,7%. Na segunda rodada (de 15 a 20 de abril) esse índice chegou a 9,7%.

No mesmo período, o percentual de casos de depressão saltou de 4,2% para 8%, enquanto os relatos de crise aguda de ansiedade subiram de 8,7% para 14,9%.

Os resultados colocam em alerta os profissionais da saúde e reforçam a necessidade de investir em ações e programas preventivos para reduzir os danos à saúde mental da população em tempos de pandemia.

Fatores de risco durante a pandemia

Segundo a pesquisa da Uerj, que ainda aguarda revisão, as mulheres são as que mais estão sofrendo com crises de ansiedade e depressão durante a pandemia.

Muitas delas continuam trabalhando ao mesmo tempo em que acumulam tarefas domésticas e o cuidado com crianças isoladas em casa.

Independente do gênero, outros fatores que podem aumentar o nível de estresse e ansiedade são a presença de doenças preexistentes, a alimentação desregrada e a necessidade de sair de casa para trabalhar.

Pessoas que trabalham no transporte público ou em supermercados, entregadores e profissionais de saúde estão entre os profissionais que apresentam os maiores índices, por se considerarem mais expostos à contaminação.

Já entre os casos de depressão, os principais fatores de risco são a baixa escolaridade, a idade avançada e o medo de contaminar pessoas vulneráveis com quem convivem durante o isolamento.

O impacto do isolamento na saúde mental

A necessidade de permanecer em casa durante vários dias em casa com recursos limitados, reduzindo os estímulos sociais e o contato com outras pessoas, pode deteriorar o estado de saúde mental de muita gente.

Dependendo das condições sociais e emocionais de cada indivíduo, o isolamento pode ser fonte de uma série de fatores geradores de estresse, que podem evoluir para quadros mais graves de transtorno de ansiedade e depressão.

Além de uma queda significativa na atividade física e a redução dos estímulos sensoriais decorrentes do envolvimento social, há ainda toda a incerteza financeira pelo fato de não poder trabalhar ou ter seus rendimentos reduzidos.

É importante ter em mente que a situação de isolamento social e a sensação de insegurança causadas pela pandemia muitas vezes acabam se refletindo em alterações de humor e de comportamento que envolvem:

  • Medo e incerteza
  • Solidão e tédio
  • Raiva, frustração ou irritabilidade
  • Estigmatização
  • Alterações de sono

Para os gestores de saúde, é importante dar atenção especial aos beneficiários que já apresentam alguma condição preexistente de saúde mental e aos portadores de necessidades especiais, que demandam o acompanhamento de cuidadores ou dependem de suprimentos médicos e dietas específicas.

Por isso, se a sua operadora ainda não possui rotinas específicas de telemonitoramento para esses indivíduos, considere essa possibilidade.

Como manter a saúde mental na pandemia

Além do telemonitoramento, outras estratégias de comunicação podem ser utilizadas para orientar os beneficiários de planos de saúde.

Seja por meio de folhetos, cartazes, e-mails ou mensagens em redes sociais, o importante é repassar orientações para que as pessoas possam não somente identificar os sintomas como também ter ferramentas que as ajudem a manter sua saúde mental.

Segundo a pesquisa conduzida pelos cientistas da Uerj, os indivíduos que apresentaram os menores índices de estresse e ansiedade foram aqueles que faziam terapia online e/ou praticavam exercícios físicos regularmente.

Os dados mostram ainda que os praticantes de exercícios aeróbicos conseguiram se manter mais saudáveis mentalmente do que quem optou por exercícios de força ou pelo sedentarismo.

Veja a seguir alguns outros cuidados que sua operadora pode recomendar aos seus beneficiários para ajudá-los a enfrentar melhor esse período tão complicado:

  • Equilibrar o tempo gasto com notícias e mídias sociais com atividades como ler um livro, ouvir música ou aprender um novo idioma.
  • Manter uma rotina diária, incluindo períodos específicos para trabalho, tarefas domésticas, exercício e aprendizado. Isso é fundamental principalmente para quem tem crianças em casa.
  • Permanecer conectado com outras pessoas, mesmo que virtualmente, para discutir sua experiência durante a pandemia e as emoções associadas a ela.
  • Caso faça algum tipo de terapia, tente manter as consultas com o seu terapeuta por meio da internet.
  • Busque apoio emocional nos animais de estimação, tomando os devidos cuidados com a higiene.
  • Tente manter um ritmo regular do sono, evitando dormir em excesso pela manhã ou tirar cochilos em diferentes momentos do dia.
  • Alimente-se bem e evite o uso de álcool ou drogas como forma de lidar com o estresse.
  • Busque recursos para enfrentar e controlar o estresse, como exercícios de respiração profunda, imagens positivas, relaxamento muscular etc.

Cuidados com os profissionais de saúde

Quem coordena equipes de atendimento em hospitais e operadoras de saúde sabe que o impacto da pandemia de Covid-19 na saúde mental não se restringe aos usuários dos serviços de saúde.

Os profissionais que estão na linha de frente do atendimento também sofrem com a exposição diária a situações de elevado estresse físico e emocional no cuidado aos pacientes infectados.

Por isso, esses profissionais precisam contar com suporte psicológico específico para poderem lidar com a situação mantendo sua saúde mental.

A melhor forma das operadoras apoiarem seus profissionais nesse momento é manter um canal aberto para acolher médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da saúde que manifestem sintomas de estresse e ansiedade.

O ideal é ter um ou mais psicólogos destacados exclusivamente para essa tarefa, atendendo os profissionais de forma presencial ou por meio de teleconsultas.

Em situações como a de uma pandemia, é muito comum que os profissionais de saúde apresentem sintomas de estresse traumático secundário (ou estresse pós-traumático).

Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um documento tratando especificamente das implicações da pandemia de Covid-19 na saúde mental.

Com relação aos cuidados específicos para trabalhadores da saúde, eis o que a entidade recomenda:

  • Reconheça que o estresse pós-traumático pode afetar qualquer pessoa que ajude as famílias após um evento traumático.
  • Aprenda a reconhecer em si mesmo os sintomas do estresse, incluindo o físico (fadiga, doença) e mental (medo, retraimento, culpa).
  • Reserve tempo para você e sua família se ajustarem à nova realidade trazida pela pandemia.
  • Crie um esquema de atividades pessoais que você goste de fazer quando não estiver cuidando dos seus pacientes, como passar um tempo (virtualmente) com amigos e família, se exercitar ou ler um livro.
  • Faça uma pausa na cobertura da pandemia na mídia e procure acompanhar apenas fontes confiáveis.
  • Peça ajuda se você se sentir sobrecarregado ou preocupado com o fato da Covid-19 estar afetando sua capacidade de cuidar de sua família e pacientes, como você fazia antes da pandemia. Isso inclui ajuda psicológica.
  • Converse com seus colegas, seu gerente ou outras pessoas confiáveis para obter suporte social. Eles podem estar tendo experiências semelhantes a você.

De forma geral, sua operadora precisa desenvolver estratégias, hábitos e rotinas internas que possam auxiliar no aumento da resiliência e na promoção da saúde física e mental dos profissionais de saúde.

Entre as estratégias que podem ser adotadas estão a adoção de ferramentas de mindfulness para aumentar o foco e reduzir o estresse, a criação de espaços para o compartilhamento de experiências entre os profissionais, além do já citado serviço de atendimento psicológico.

O impacto da Covid-19 vai muito além do atendimento de pacientes graves na UTI. Por isso, cuidar da saúde mental de profissionais e beneficiários durante essa pandemia é tão importante para uma operadora de saúde quanto as ações mais diretas no atendimento aos infectados. Pense nisso.