Em 2022, o setor de planos de saúde sofreu um prejuízo operacional acumulado de R$ 11,5 bilhões em 12 meses, o maior desde 2001, quando teve início a série histórica elaborada pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), autarquia que fiscaliza as operadoras e regula o mercado. Apesar disso, a perda ficou abaixo dos R$ 15 bilhões que tinham sido projetados pelo mercado.

Quando analisado o resultado financeiro, as contas encerraram o ano no “zero a zero”, conforme definição da própria ANS, com o lucro líquido de R$ 2,5 milhões – 0,001% dos faturamentos de operações de saúde do segmento no ano precedente, de R$ 237,6 bilhões.

De acordo com os dados, 43% das operadoras médico-hospitalares fecharam o último ano com perdas. Em 2020, o setor teve um lucro recorde de R$ 18,7 bilhões graças à redução de procedimentos com a eclosão da crise sanitária e de R$ 3,8 bilhões em 2021.

Recentemente, centenas de convênios foram cancelados por iniciativas das operadoras, e contra a vontade dos cidadãos. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, as operadoras argumentam que atuam em conformidade com a lei, já que a rescisão unilateral está prevista em contrato – o entendimento da ANS vai na mesma direção.

Na perspectiva de Hugo Victor, especialista no segmento de plano de saúde, o prejuízo operacional recorde experimentado pelos planos é uma má notícia para o mercado, pois está se traduzindo em reajuste para o consumidor final.

“Os planos de saúde estão criando novos produtos, com rede inferior, para se adequar à nova realidade. O rombo deixado no sistema de reembolso deve dar fim aos planos com reembolso de modo geral”, afirma.

No início de 2023, as operadoras deram início a uma campanha para estancar perdas com fraudes, em meio ao aumento de custos no setor de saúde, e diante da retomada de consultas e exames, conforme noticiado pelo jornal O Globo.

Para Victor, as fraudes no setor impactam o mercado e refletem no atual panorama de prejuízo operacional recorde. “O setor de saúde está se adaptando a novas regras. Grande parte das operadoras que comercializam planos coletivos por adesão suspenderam as vendas para menores de dezoito anos por conta das fraudes com procedimentos de terapia, prejudicando quem realmente precisa do serviço”.

“Além disso”, avança, “os planos de saúde criaram uma tabela mais onerosa para os MEIs (Microempreendedores Individuais) e algumas operadoras suspenderam a comercialização para a categoria, o que é ruim para todo mundo”, conclui.