A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) realizou, na terça-feira (11/4), o Seminário Nacional de Promoção da Saúde e Prevenção de Riscos e Doenças (Promoprev), em São Paulo. O encontro marcou o retorno dos eventos de Promoprev ao calendário da Agência após a pandemia de Covid 19 e teve lotação máxima, com mais de 500 participantes.

“Um dos principais objetivos da ANS com este seminário é estimular o setor a desenvolver programas de Promoprev. Tratar a doença é muito importante, mas é fundamental cuidar integralmente do beneficiário, promover a saúde e prevenir agravos e doenças. Atualmente, 80% das demandas de assistência podem ser tratadas no âmbito da Atenção Primária à Saúde e com a adoção de hábitos saudáveis, como uma alimentação adequada, a prática regular de atividade física e atenção à saúde mental”, declarou o diretor-presidente da ANS, Paulo Rebello.

Logo na abertura do evento, o diretor de Desenvolvimento Setorial, Maurício Nunes, destacou o empenho da Agência na busca dessa mudança de paradigma: “Por meio do Promoprev, incentivamos que a prevenção seja protagonista no cuidado à saúde dos beneficiários de planos de saúde. É uma missão fácil? Definitivamente, não é! Mas com conhecimento, gestão e um trabalho de conscientização da população, nós daremos passos importantes para os objetivos almejados”.

O diretor de Normas e Habilitação dos Produtos da ANS, Alexandre Fioranelli e a diretora de Fiscalização, Eliane Medeiros, endossaram a importância dos debates do dia com as operadoras. “Este evento também é muito importante para as que ainda não possuem programas de prevenção. Não estamos preocupados só com o atendimento, mas com a necessidade de assistência médica”, disse Fioranelli. “Pela ANS, fizemos muita questão de reunir todas as diretorias para promover, acima de tudo, este trabalho de conscientização de que devemos investir na saúde e não na doença”, reforçou Eliane Medeiros.

Na sequência, os participantes assistiram à palestra do médico Gonzalo Vecina, que destacou a importância do autocuidado. “Está na hora de repensar o que nós temos que entregar. Hoje, o foco do setor está no atendimento a demandas. Mas precisamos voltar a atenção para a oferta em saúde”, enfatizou Vecina.

No modelo de oferta proposto pelo médico estão o envelhecimento da população com qualidade, mas, principalmente, a transformação do paciente em sujeito do seu próprio processo. “É o paciente que decide prestar atenção ao seu próprio peso, por exemplo. Não é o seu médico ou o seu professor de educação física”, explicou. Nesse sentido, Vecina indicou que os profissionais de saúde precisam entrar na agenda do paciente e entender suas reais necessidades. “O caminho mais adequado não é o da proibição, mas o da autoconsciência”, completou.

Vecina também pontuou os sete pilares que regem os conceitos de Promoprev: o conhecimento e a informação; a promoção da autoconfiança do paciente e a proteção da saúde mental; a realização de atividades físicas; a adoção de uma alimentação saudável; levar o paciente a um estado de consciência que permita a tomada de decisões; boa higiene; e o uso racional de produtos e serviços de saúde, evitando a medicalização. “Temos que buscar um caminho em que cuidar seja tão importante quanto curar”, encerrou o palestrante.

Continuidade de bons hábitos para melhores resultados
O evento seguiu com uma mesa redonda sobre saúde, qualidade e estilo de vida, mediada pelo diretor do Institute for Healthcare Improvement (IHI no Brasil), Fernando Faraco, com representantes da ANS, da Universidade de São Paulo (USP) e referências no setor.

Faraco iniciou o debate questionando o caminho para guiar o paciente em um mundo com tantas redes sociais e informações disponíveis principalmente sobre o que é alimentação saudável. A nutricionista e professora da USP, Patrícia Jaime, afirmou que quando a informação chega através do médico de confiança é melhor aceita. “O Guia Alimentar para a População Brasileira trouxe luz para as operadoras e equipes de saúde como um importante caminho para o desenvolvimento de ações de Promoprev”, destacou. A profissional acrescentou que a narrativa de priorizar alimentos in natura é muito positiva e desmistifica a alimentação do dia a dia.

O diretor da ANS, Maurício Nunes, ressaltou a importância de identificar incentivos nos pacientes para gerar as mudanças necessárias. “Não é fácil mudar os hábitos, é preciso incentivo. É fundamental começar, hoje, uma rotina de novos hábitos, mais saudáveis, para melhorar a saúde”, dividiu Nunes.

O médico e mestre em Medicina Alberto Ogata trouxe alguns modelos de cuidados em saúde como o modelo de cuidados crônicos e o Triple AIM. Com algumas diferenças entre eles, ambos são baseados em prevenção. “O Triple AIM tem como objetivo melhorar a qualidade dos cuidados em saúde, reduzir os custos e melhorar a experiência do paciente. Já o modelo de cuidados crônicos se concentra na prevenção e gerenciamento de doenças crônicas por meio da coordenação efetiva dos cuidados entre os pacientes, suas famílias e profissionais de saúde”, explica.

Faraco conduziu o debate para a prática de atividades físicas. O CEO do Grupo Espaço Saúde, Gener Luz Junior, falou sobre a importância de conscientizar o paciente em relação à continuidade das boas práticas adotadas. “Para implementar programas de atividades físicas, precisamos apresentar métricas de curto, médio e longo prazo. Os resultados esperados chegam quando atingimos o tempo do longo prazo e por isso a continuidade é primordial”, disse Gener.

Na troca de experiências recentes, Alexandre Fioranelli afirmou que é preciso implementar ações sistemáticas para conseguir os resultados tão discutidos em saúde. “Ao mesmo tempo em que essa virada de chave é um desafio, é uma oportunidade. As ações de promoprev precisam ser verificadas por meio de índices  que demonstrem benefício de saúde para o  paciente”, avalia o diretor da ANS. Para ele, essa identificação é pautada em indicadores como os desfechos que a pessoa teve com o tratamento e/ou a condução do programa, custos, algoritmos, mapeamento da fonte pagadora e pesquisas cientificas . “A pandemia de Covid-19 foi um exemplo em que o desafio se tornou em oportunidade, sendo um catalisador de ações sistemáticas que o setor mostrou ser capaz de fazer. Se conseguirmos dar passos consistentes nesse cenário, estamos prontos para uma mudança de paradigma em relação à promoção da saúde” completou.

A manhã foi encerrada com a palestra da médica Ana Escobar, que também é editora e colunista da Revista Crescer. Ana abordou o tema saúde e qualidade de vida atualmente. “Estamos muito ansiosos em um mundo cada vez mais imediatista. As tecnologias nos deixam juntos e solitários ao mesmo tempo”, falou a médica para ambientar o tema.

A palestrante abordou três desafios que acredita que o setor deva incentivar na população neste momento: promover a saúde mental dos jovens; fortalecer os laços presenciais e priorizar a atividade física. Para isso, será necessário observar as quatro dimensões de atuação da saúde: física, emocional, financeira e social. Para ela, a qualidade de vida é proporcionada por meio do equilíbrio desses quatro lados.

Pessoas em primeiro lugar
Após o intervalo para o almoço, os músicos Vitor Lopes e Daniel Murray conduziram uma apresentação interativa, com músicas e a participação da plateia.

Em seguida, a diretora-adjunta de Desenvolvimento Setorial da ANS, Angélica Carvalho, e o procurador-chefe da Agência, Daniel Tostes, falaram sobre o futuro da saúde suplementar. “Um dos nossos principais desafios, hoje, é ter um modelo assistencial sustentável, em que a saúde seja integral e integrada. Para isso, precisamos incentivar o acolhimento e a escuta atenta dos médicos e manter o foco nos pacientes”, avaliou Angélica Carvalho.

Ambos reforçaram o momento de virada de chave para que os programas de Promoprev acompanhem o paciente desde o início de sua jornada até eventuais tratamentos paliativos. “Precisamos construir isso de forma coletiva, compartilhando o conhecimento”, completou a diretora-adjunta.

Ana Paula Cavalcante, gerente de Estímulo à Inovação e Avaliação da Qualidade Setorial da ANS, e Katia Audi, coordenadora de Indução à Melhoria da Qualidade Setorial, completaram a apresentação, trazendo os desafios e as perspectivas das ações de promoção à saúde. “O nosso foco é melhorar a saúde da população e a experiência do paciente no cuidado”, pontuou Ana Paula.

Seguindo a linha trazida pelo primeiro palestrante do dia, Kátia Audi defendeu a avaliação do paciente em suas necessidades específicas e alertou sobre os riscos relacionados à ausência de uma alimentação saudável somada à falta de exercícios físicos ou a uma rotina insuficiente: “Comorbidades como a obesidade abrem portas para doenças como o diabetes, as cardiovasculares, a renal crônica e alguns tipos de câncer”.

Para elas, os programas de Promoprev devem ter monitoramento constante de seus públicos, por meio de indicadores, e contar com equipes interdisciplinares. Com base na frase do professor Paul Batalden, que diz “todo sistema é perfeitamente desenhado para obter os resultados que obtém”, Katia Audi encerrou sua apresentação propondo a reflexão de que para se obter novos resultados é preciso desenhar um novo sistema: “A gestão do cuidado é uma gestão de cultura, da alta administração até os profissionais de saúde”, concluiu.

O fim da tarde ficou por conta da troca de experiências e da apresentação de cases de operadoras selecionados pela ANS. Treze operadoras levaram banners com informações, indicadores e resultados dos seus programas. No palco, representantes de cinco empresas apresentaram seus programas ao público. A Fundação São Francisco Xavier apresentou o Usifamília, projeto que tem a Atenção Primária como modelo e busca atender às necessidades de saúde de mais de 15 mil beneficiários e familiares, por meio da vinculação entre pacientes e profissionais da saúde.

A Fundação Copel levou resultados de seu Programa de Benefício em Medicamento (PGM), em que seus beneficiários conseguem adquirir medicamentos de uso contínuo, como aqueles para tratamento de depressão e ansiedade, com descontos extras, além do que já é oferecido pelo laboratório e a operadora, por meio das informações e de uma farmacêutica, faz avaliação do perfil dos beneficiários e de possíveis riscos de interações medicamentosa, entrando em contato com o médico assistente.

Na sequência, foi a vez da SulAmérica apresentar os resultados do Programa Saúde Ativa, um conjunto de iniciativas focadas na gestão integrada da saúde, com o objetivo de promover qualidade de vida aos mais de 31 mil beneficiários participantes.

Com um programa especial para pessoas com espectro autista, a Unimed Araraquara conta com um programa que possui mais de 30 aplicadoras do método ABA (Análise do Comportamento Aplicada – Apllied Behavior Analysis), que tem dedicação de 30h semanais, cada. Os atendimentos são realizados no núcleo de terapias da operadora, em estrutura física criada especialmente para o programa, e conta com uma equipe multidisciplinar formada por profissionais como psicólogos, pedagogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, nutricionista, fisioterapeuta e educador físico.

Fechando as apresentações, a MetLife mostrou o seu programa Viva Sorrindo. Por ele, os beneficiários iniciam a jornada de prevenção com visitas ao dentista, higiene oral e mudança de hábitos, até conquistarem os benefícios esperados como aumento de qualidade de vida, saúde bucal e boa autoestima.

A dinâmica de encerramento foi conduzida por Gener Luz Junior que, além de CEO do Espaço Saúde, é profissional de Educação Física. Ele propôs uma reflexão sobre hábitos saudáveis voltados para o aumento da expectativa de vida e lançou um desafio para a plateia conquistar este objetivo, baseado em metas diárias, semanais e anuais de atividade física.

O diretor Maurício Nunes e a diretora-adjunta Angélica Carvalho concluíram o seminário agradecendo a presença de todos e reforçando as mensagens de promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças. “A ANS se coloca como indutora desse processo, destacando que é preciso começar e colocar as pessoas em primeiro lugar”, encerrou Maurício.