Terminou na quinta-feira (17) o prazo de 30 dias para os donos da Amil explicarem à ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) a tentativa de venda de seus planos individuais de saúde. O conglomerado quer passar a outros empresários sua operadora APS (Assistência Personalizada à Saúde), responsável por convênios individuais e familiares da Amil, mas a ANS suspendeu o negócio, pedindo mais informações. A Amil e a APS pertencem atualmente ao grupo UHG (Grupo United Health).
A ANS mandou 23 perguntas sobre o acordo e alertou que cobraria R$ 100 mil por dia em caso de atraso. Segundo a ANS, a Amil enviou a documentação na terça-feira (15). A Amil diz não ter novidades.
Questionada pelo UOL, a agência não disse quanto tempo levará para analisar os documentos e quais são os próximos passos se as respostas não forem suficientes. A ANS disse que o processo corre em sigilo. “Não será possível, até que a análise seja concluída, fornecer mais detalhes sobre o assunto no momento”, informa, em nota.
Planos individuais têm reajustes menores
A negociação está travada desde 8 de fevereiro, após a ANS suspender a troca de comando (veja o histórico abaixo). Enquanto a agência reguladora examina os papéis, os clientes da APS continuam sendo atendidos pela operadora.
Especialistas ouvidos pela reportagem acreditam que o Grupo United Health tem interesse em se livrar dessa carteira com rapidez porque os planos de saúde individuais são menos rentáveis. Seus reajustes anuais são regulados pela ANS. Os planos coletivos não têm essa limitação e podem ser reajustados sem restrições.
Uma fonte ouvida pelo UOL e que tem conhecimento do processo, mas pediu para não ser identificada, afirmou que todas as operadoras de saúde e os futuros sócios responderam a questões técnicas e burocráticas.
“A documentação está na mão da ANS, e o processo caminha dentro do planejado”, diz a fonte.
De acordo com essa fonte, o levantamento de dúvidas da agência reguladora era objetivo e tinha a finalidade de entender como se dá a relação entre Amil, APS e os futuros donos nessa transição.
Entenda o caso
A APS assumiu em janeiro deste ano a carteira de planos individuais e familiares da Amil, após a ANS aprovar a mudança. APS e Amil atualmente são do mesmo grupo empresarial.
Essa transição tem sido acompanhada de reclamações de usuários, como dificuldade no tratamento de doenças graves e perda de hospitais e laboratórios credenciados. O site da ANS recebeu mais de 2.700 registros de críticas somente em janeiro, de acordo com a Folha de S.Paulo.
Antes de assumir a gestão da carteira da Amil, a APS tinha cerca de 11 mil clientes.
No início de fevereiro, a ANS levantou 23 dúvidas que justificaram a sua decisão de interromper temporariamente a entrada dos empresários. Exigiu, por exemplo, documentos que comprovem o conteúdo das transações que levaram à assinatura do contrato entre a Amil e os sócios.
Também demandou o envio de informações que comprovem a capacidade financeira dos empresários que pretendem assumir essa carteira de clientes, a descrição dos serviços prestados hoje pela APS e daqueles que poderão ser realizados por terceiros, entre outros.
Já no dia 16 de fevereiro, em meio ao crescimento de reclamações dos usuários, executivos da Amil participaram de uma reunião com a ANS e apresentaram um plano de ações para os clientes que hoje são atendidos pela APS.
Sócio diz que negócio é viável
Em conversa com o UOL, Henning von Koss, um dos executivos envolvidos na negociação, afirma que uma eventual aprovação do negócio será benéfica para o nicho de planos individuais. A carteira de 337 mil clientes da APS é composta majoritariamente por pessoas de meia-idade e idosos.
Ele pontua que as operadoras priorizam os convênios empresariais, mais rentáveis e cujos reajustes não são regidos pela ANS.
“Vamos mostrar ao mercado que o plano individual é viável. É muito simples deixá-lo de canto e colocá-lo como ‘patinho feio’. Acreditamos no plano [individual] desde que exista uma empresa dedicada a ele”, afirmou.
Mesmo com a confirmação da ANS, o UHG disse em nota que não há novidades sobre o caso.
Von Koss, que já foi diretor de empresas do setor como Medial, Hapvida e a própria Amil, integra uma sociedade composta por duas empresas. São elas: Fiord Capital, gestora de investimentos fundada pelo empresário sérvio Nikola Lukic, e Seferin & Coelho, de investimentos em saúde privada e dona da rede de hospitais e clínicas Life Plus.
Na proposta de composição de capital, Fiord e Seferin & Coelho ficam com 45% de participação cada uma e Von Koss garante uma fatia de 10%. O acordo prevê um aporte de R$ 2,34 bilhões da Amil na APS.
O executivo diz que os clientes só se lembram dos convênios quando têm algum problema de saúde, e garante que não será assim caso seja responsável por essas vidas. Ele promete um serviço baseado em três pilares: dedicação, foco e exclusividade. “Nossos clientes serão surpreendidos positivamente.”