Documentos inéditos obtidos por ÉPOCA via Lei de Acesso à Informação revelam que todas as ações da Unimed Paulistana não passaram de “estudos e intenções” para evitar a crise. Segundo os documentos da Agência Nacional de Saúde (ANS), a operadora e seus dirigentes nunca apresentaram planos concretos para salvar o plano de saúde, que chegou a ter uma cartela de quase 1 milhão de segurados e mais de 2 mil cooperados. Hoje a Unimed enfrenta um processo de liquidação judicial, depois de ter passado por três regimes especiais de gestão para tentar sanar as irregularidades.

Os registros da ANS detalham as tratativas para tentar conter a sangria na operadora. Nos últimos quatro anos, o patrimônio da operadora foi dilapidado e os valores em caixa foram considerados insuficientes para quitar dívidas. Os documentos mostram que a maior parte do passivo da operadora era formada por tributos (40%) e encargos sociais. “Não há qualquer segurança de que as tratativas se concretizem e que ocorra a implementação das medidas de reestruturação e saneamento nos próximos meses”, diz a agência. “Vê-se que foram dadas várias oportunidades para que a Unimed Paulistana apresentasse um programa de saneamento capaz de equacionar as graves anormalidades econômico-financeiras”, completam os analistas da agência. E, segundo a ANS, o único fato novo apresentado pela operadora foi a eleição de uma nova diretoria executiva e do conselho de administração.

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Em meio à crise, a operadora liderava índices de reclamações dos consumidores. Os relatórios detalham ainda como a operadora foi perdendo a rede credenciada, os atendimentos foram cancelados, perdeu capacidade de buscar crédito e passou a usar o serviço de factorings e chegou a ter de fazer TEDs para que alguns prestadores continuassem o atendimento.
“A Unimed Paulistana não atende às condições mínimas para se manter no mercado de saúde suplementar, colocando em risco a continuidade e a qualidade do atendimento à saúde dos seus beneficiários”, atesta a ANS. Procurada, a Unimed Paulistana não se pronunciou. Tão logo ofereça seus esclarecimentos, esta reportagem será atualizada.

Transparência

O pedido de acesso à informação foi negado duas vezes pela ANS. A agência foi obrigada a fornecer os dados depois que ÉPOCA recorreu à Controladoria-Geral da União (CGU). O órgão determinou que os dados que tratassem de sigilo empresarial ou informações sensíveis fossem tarjados, mas concordou com os argumentos de ÉPOCA de que isso não poderia servir de justificativa para que os documentos não fossem fornecidos. “Concorda-se com a ANS quanto à existência de informação sensível nos documentos. Todavia, não se justifica a negativa integral de acesso a tais documentos”, diz o parecer da CGU.